Dizer a um dos duzentos e tal mil funcionários ingleses que poderão ir para o desemprego, a uma das inglesas de barriga que deixou de ter direito a cheque-bebé ou a qualquer servo de Sua Majestade que é português equivale nos dias que correm a pôr a vida em risco. Se por acaso virem algum tipo de pouca altura, moreno e com camisa Lacoste comprada na Feira do Relógio a correr por Piccadilly City abaixo podem ter a certeza de que foi um Portugal que cometeu o erro de dizer a um inglês que é português.
Os ingleses não nos vão perdoar as responsabilidades na crise financeira europeia e mundial, de nada nos serve dizer-lhes que não votámos em Sócrates nem usamos sapatos Prada, levamos na mesma por conta das responsabilidades do governo português naquilo que ingleses, italianos, gregos, espanhóis e muitos outros europeus estão a sofrer. Aliás, nestes dias em que a bolsa americana está em queda nem na Wall Street convém andarmos identificados, até os americanos que estavam convencidos de que Portugal era uma pequena ilha das Canárias já nos identificam como os responsáveis da crise mundial.
É isso mesmo, como garantem os nossos ex-ministros das Finanças, líderes partidários, associações das PME, Manuela Ferreira Leite, Cavaco Silva e toda a gente deste país que sabe pensar não há crise no mundo e muito menos na Europa, a crise é portuguesa, o culpado toda a gente o conhece, só há diferenças nas causas, para uns foi a política de direita, para outros a teimosia em construir o TGV.
O que é certo é que desde que Wall Street e a Europa soube do défice português as grandes praças financeiras entraram em sobressalto, as agências de rating corrigiram tudo em baixa, a Grécia ia indo à bancarrota e até Rainha de Inglaterra foi obrigada a poupar nas fraldas descartáveis, agora só as muda uma hora depois de beber o chá.
É isso mesmo não havia qualquer crise na Europa até ao dia em que as empresas de rating avisaram o mundo para o que se estava a passar em Portugal, foi a crise portuguesa que arrastou o mundo para uma das mais graves crises dos últimos cem anos.