segunda-feira, maio 17, 2010

Ficções

Seria muito interessante comparar a realidade do país com aquela que é ficcionada pelos políticos, excepção para Miguel Frasquilho que tem os pés em mundos diferentes, como deputado tem o pé na realidade do PSD, como quadro do BES escreve que a situação portuguesa se deve ao ataque especulativo contra o euro, como deputado diz que nada se passou lá fora e tudo é culpa do governo.

No caso do ministro das Finanças a realidade muda todos os dias, cada vez que faz uma previsão económica somos confrontados com uma nova ficção. De qualquer das formas o caso do ministro das finanças deixa de ser grave se tivermos o cuidado de considerar que a realidade actual corresponde à previsão que o ministro fará daqui a um mês, é a versão económica do comboio espanhol, faz as previsões certas com um mês de atraso.

Cavaco Silva também tem uma percepção da realidade muito original, depende da agenda política e da sua relação com José Sócrates. Se discursa como presidente conclui que as coisas estão mal, se está zangado com Sócrates as coisas estão ainda pior, se discursa como candidato presidencial a fazer de conta que é presidente o futuro é radioso.

O mais optimista dos nossos políticos é Jerónimo de Sousa, para ele não há nem crise nacional, nem crise internacional, não há limites para o défice nem para o endividamento público, o problema é da política de direita, se não fosse essa política o Estado poderia empregar os desempregados, aumentar pensões e subsídios e ainda sobrava dinheiro para aumentos de mais de 4% dos vencimentos dos funcionários, como exigiram os seus sindicalistas.

O discurso do PSD depende das suas expectativas eleitorais, quando não imaginava vir a ser governo não havia crise internacional, era contra as obras públicas por defender que esse dinheiro devia ser para os pobres, como defendeu Manuela Ferreira Leite no congresso que se seguiu à sua eleição como líder. Com expectativas de vir a ser governo o PSD já reparou que existe crise internacional e tem o gesto patriótico de apoiar Sócrates na adopção das medidas que ele não quer que estejam por adoptar quando for governo.