A democracia portuguesa está cada vez mais prisioneira de uma classe restrita que se aburguesou e enriqueceu facilmente graças à política, são jornalistas de “sucesso”, administradores de uma infinidade de empresas e institutos públicos, dirigentes da Administração Pública, opinion makers diversos e as caras do costume dos grupos corporativos, incluindo líderes sindicais que não trabalham há décadas.
Fico a saber pela comunicação social que o governo não vai reconduzir o presidente das Águas de Portugal, ao que parece o senhor é dado a bons carros e ainda promoveu a esposa, um país onde um cidadão desempregado fica sem água se não pagar a conta da água este distinto burguês andava de Mercedes E 350 CDi. Mas será este burguês o único que em tempos de crise e enquanto muitos portugueses sofrem os efeitos da crise abusou dos dinheiros públicos?
Duvido, vivemos num país onde o governador do Banco de Portugal ganha mais do que o presidente do poderoso FED americano, onde muitos ex-administradores desse mesmo BdP usufruem de pensões vitalícias. A verdade é que são raros os casos de dirigentes do Estado demitidos por incompetência ou abusos na gestão, administradores de empresas e institutos públicos acusados de má gestão ou de apropriação indevida de dinheiros públicos com recursos a esquemas de prémios ou de auto-concessão de mordomia.
Com o argumento de que ganhariam mais se exercessem funções privadas acabam por ganhar mais, viverem tranquilamente nos cargos, beneficiar familiares, abusarem de mordomias, tudo isto sem a incomodidade dos prejuízos e acesso ilimitados a recursos públicos e a crédito garantido pelo Estado.
Há demasiada gente a ganhar fortunas num país onde a riqueza escasseia, é uma imensidão de recursos retirado da economia para enriquecimento de uns quantos e o mais caricato da situação reside no facto de serem estes os primeiros defensores de medidas de austeridade ou da vinda do FMI.