O Pedro Passos Coelho que punha o país acima das sondagens quando estas estavam em alta desdobra-se na tentativa de dar o dito por não dito na esperança de os eleitores serem distraídos. O anteprojecto aprovado na comissão política e confirmado na comissão nacional passou milagrosamente a anteprojecto de um novo anteprojecto em que tudo o que poderá ter influenciado a opinião dos eleitores ou irritado Belém desapareceu.
E como o que importa são os jornalistas o anteprojecto do anteprojecto ainda antes de ser apresentado à comissão política e aos deputados é servido aos jornalistas no meio de uns scones e de sumo de laranja, talvez ainda haja tempo para se produzir um anteprojecto do anteprojecto de um anteprojecto a ser apresentado aos órgãos do partido se entre as nove e as seis da tarde os jornais ou os comentadores descobrirem algum artigo eleitoralmente incómodo.
Convencido de uma vitória eleitoral mais do que certa, com o governo desgastado por processos sucessivos, embalado por uma crise que milagrosamente passou de nacional a internacional, o líder do PSD achou que poderia impor um pré-programa de governo ao PS exigindo desta a aplicação das medidas difíceis para que as mais simpáticas fossem reservadas para o seu governo. E como se isto não bastasse ainda achou que poderia trocar o orçamento por uma constituição.
Mas Pedro Passos Coelho teve mais olhos do que barriga, esqueceu-se que os portugueses têm a mania de opinar sobre assuntos importantes e o resultado foi o que se viu, o mesmo Passos Coelho que andava armado em primeiro-ministro pré-eleito luta agora pela sua sobrevivência, são cada vez mais os que duvidam que sobreviva até às próximas legislativas. Tudo porque foi guloso e decidiu tentar impor aos outros partidos e ao país uma revisão constitucional elaborada por um amigo, esqueceu que nesta legislatura o PSD não tem nem maioria absoluta, nem maioria relativa, quanto mais os dois terços necessários a uma revisão constitucional como a que propões.
Convencido de que os portugueses estão tão desesperados quem nem olham em quem votam achou que podia tosquiar a Constituição da República e acabou por ser tosquiado. Dificilmente recuperará nas intenções de voto pois a queda das sondagens não resulta apenas das suas propostas absurdas, resultam também da perda da credibilidade e essa dificilmente recuperará. A actual estratégia de Pedro Passos Coelho tem um pequeno inconveniente, faz dos portugueses parvos e é por isso que começa com um pequeno almoço com jornalistas, tem a esperança de que os jornalistas o ajudem a enganar os portugueses.