«Estão convencidos de que basta a consideração da sua existência para acalmar os mercados e entidades financeiras internacionais, bem como as autoridades comunitárias.
Puro engano: o que todos estes pretendem é a qualidade e objectivos explícitos no orçamento. Se não se fizerem propostas de acordo com aquilo que todas aquelas instâncias requerem, então o orçamento nada contribuiu para o enquadramento internacional de que carecemos.
Há ainda uma questão política a tentar perceber; se aquelas figuras reclamam a existência para 2011 de um consenso orçamental, ou seja praticamente a obrigação do PSD em não o vetar, então a lógica com toda a probabilidade manter-se-á para 2012 e 2013.
Por outras palavras, o PSD estará sempre condicionado a nunca vetar a proposta orçamental do PS.
As insignes figuras em vez de apenas reclamarem um orçamento aprovado, em vez de requererem um bom orçamento, apenas olham para um lado da realidade, esquecendo o outro. Na prática o que fazem – talvez não conscientemente – é condicionarem o PSD e a sua liderança.»
Ficamos a saber por Ângelo Correia que o que anima Pedro Passos Coelho é a qualidade dos objectivos definidos no orçamento e, de forma implícita, que o governo que os portugueses escolheram não é capaz disso, cabendo ao líder iluminado que substituiu a liderança derrotada do PSD a definição desses objectivos. À lógica de que o PSD seria sempre obrigado a aprovar um orçamento do PS aponta-se uma outra, a de que instrumentos políticos fundamentais devem ser decididos por um partido minoritário, pior ainda, que os orçamentos de uma legislatura devem estar condicionados aos objectivos definidos para a legislatura seguinte por um líder político de que ainda não se sabe se vai ser mesmo candidato a primeiro-ministro já que no PSD e a crer no seu passado recente tal hipótese será uma mera coincidência.
Só que esta argumentação de Ângelo Correia cai por terra quando a qualidade dos tais objectivos é garantida por duas exigências, não mexer nas deduções fiscais (principalmente nas da saúde que interessam mais aos Mellos do que à classe média), reduzir a despesa e não aumentar os impostos. As três propostas reduzem-se a uma, a redução da despesa, mas não se faz qualquer proposta nesse sentido pois deixa-se ao PS a impopularidade das medidas. Por outras palavras, Passos Coelho diz ao PS que quer que sejam despedidos funcionários e/ou cortados os seus vencimentos, mas que seja o governo a dar a cara por essas medidas. Se não é isso que Pedro Passos Coelho quer, então que diga quais as medidas que poderão assegurar a redução do défice.
Ângelo Correia está muito preocupado em « para acalmar os mercados e entidades financeiras internacionais, bem como as autoridades comunitárias » e assegura que isso se consegue-se com a qualidade dos objectivos. Só que esquece a existência do PEC e que essas mesmas entidades que acreditaram nesse instrumento esperam agora que os que o assinaram concretizem as medidas neles previstas, sob pena de não poderem confiar nas autoridades portuguesas e, pior do que isso, nos partidos políticos que num dia assinam acordos e no outro tratam das sondagens.
O artigo de Ângelo Correia é um bom exemplo da bandalheira argumentativa de que se vai fazendo o debate político em Portugal.
PS: Será que a redução da despesa pública é conseguida por aumentos de 2% dos funcionários públicos como exige o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, um sindicato que quase se confunde com os TSD já que no Estado ser militante do PSD implica que por inerência quase se seja sindicalizado no STE?