quarta-feira, março 25, 2009

Um problema de comunicação?

Manuela Ferreira Leite queixou-se de que ninguém a ouve e Pedro Santana Lopes, esse brilhante político português, aproveitou um almoço no American Club para lhe dar umas dicas de comunicação. A líder do PSD tem razão ao manifestar a sua frustração, já tentou de tudo para se fazer ouvir, até já teve a brilhante ideia de ficar calada pensando que assim todos os portugueses a ouviriam e compreenderiam melhor as suas propostas.

Do mesmo não se pode queixar o seu irmão Dias Ferreira, esse tem audiência garantida e quase aposto que muitos dos nossos desempregados estão mais atentos ao que ele diz do que com a prestação da casa ou do carro do que com as propostas da irmã para aumentar o emprego. A verdade é que a bendita grande penalidade marcada no jogo da taça dos pequeninos levou a que o país esquecesse a crise económica, agora vamos discutir todas as apitadelas nos jogos do Benfica e do Sporting e depois mete-se o Verão, isto é, voltaremos a questionar a crise lá para o mês de Outubro, já depois das eleições.

Até porque saber quem vai ganhar os milhões pela participação na Liga dos Campeões é bem mais importante do que os monótonos indicadores do desemprego ou do crescimento económico. Mais importante do que conhecer a evolução das exportações é saber se o Sporting ou o Benfica vão resolver os seus problemas financeiros vendendo jogadores para o estrangeiro. Entre a recuperação da Quimonda ou a venda do Veloso a um grande clube inglês ninguém duvida de que o futuro do jogador ocupa mais jornalistas e comentadores, se a Manuela Ferreira Leite falar da Quimonda na RTP ao mesmo tempo que o irmão falar do Veloso na SIC lá se vai o share da estação pública.

Aliás, a última vez que em Portugal ouvi falar de boas expectativas de crescimento económico era Manuela Ferreira Leite ministra, andavam todos convencidos de que o Euro 2004 se faria sentir na economia. Até já houve grandes debates sobre se uma vitória do Benfica na liga local teria reflexos na actividade económica. Não me admiro, portanto, que um dia destes a líder do PSD esqueça o seu benfiquismo e se junte ao irmão nos protestos contra a grande penalidade.

Já se queixou de falta de democracia, já aguardou tranquila esperando que os camionistas derrubassem Sócrates, já manteve secretas as suas propostas, já apresentou propostas a pacote, já reuniu empresários e sindicalistas, já denunciou a central de comunicação, já experimentou de tudo e ninguém a ouve. Agora, quando pensava que a nova estratégia poderia resultar veio esta maldita grande penalidade e distraiu o Zé Povinho.
Está mais do que visto, se o fiscal de linha tem a Alcunha de Ferrari por ser benfiquista também não restam dúvidas de que o árbitro só pode ser também do Benfica, com uma única apitadela conseguiu distrair o país daquilo que é importante, aliviou Sócrates e arranjou motivo para os portugueses andarem distraídos até ao fim do ciclo eleitoral.