domingo, março 15, 2009

Umas no cravo e outras na ferradura

FOTO JUMENTO

Janela de Alfama, Lisboa

IMAGEM DO DIA

[Khaled Abdullah-Reuters]

«Burqa-clad female members of the Islamic-oriented Yemeni Congregation for Reform, the main opposition party, attend the fourth congress in Sanaa, Yemen.» [The Washington Post]

JUMENTO DO DIA

António Costa

A proposta e António Costa para que o PS faça uma coligação com Manuel Alegre não só é absurda como revela que o autarca de Lisboa está mais preocupado com a sua própria carreira política como autarca do que com o PS, o que, aliás, é postura dos autarcas do "Portugal profundo".

António Costa não receia que dessa coligação entre os que votarão PS e os que votaram Alegre quatro anos resulte um governo ineficaz e entregue aos humores de Manuel Alegre, o que ele quer é que Manuel Alegra governe para que Helena Ro0seta apoie a sua candidatura. Pouco lhe importa o futuro do país desde que ele continue a presidir à autarquia da capital. Esgotadas as hipóteses de uma aliança com a alegrista Helena Roseta, António Costa decidiu vender o Governo numa rifa política.

TÍTULO 08

Pintassilgo [Carduelis carduelis]

REGRESEMOS AO ARADO

«João Salgueiro é o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, honesto e inteligente.

Diz o grande economista que a nossa única salvação é a agricultura. Quando um banqueiro vem ter com o terra-tenente a dizer que o empréstimo lhe foi recusado mas que ele não só aconselha como pede que o lavrador, em vez de pedir dinheiro, cultive mais batatas, sabemos que a coisa está grave.

A matemática das finanças; a econometria e a própria economia como pretendente a ciência potencialmente não-inexacta, sofrem um grande abalo de credibilidade quando as grandes cabeças da disciplina, acometidas de honestidade e amor pátrio, vêm recomendar que cultivemos mais as nabiças do que os depósitos a prazo.

A recessão até aqui tem tido, para mim, um sentido inglês - de regresso até um tempo em que éramos menos ricos. Mas quando o baril do João Salgueiro começa a dizer que as azeitonas, os pêssegos e os grelos nos acodem mais do que todos os instrumentos financeiros juntos, é caso para pensar que um tremoço, daqui a pouco tempo, há-de valer mais do que um cêntimo.
Temos de sair dos bancos e voltar à terra. Não há conselho mais deprimente ou mais sincero.

A recessão, decididamente, já se pode considerar uma depressão a sério.Quando o antidepressivo, pela boca do bom doutor João Salgueiro, não é um medicamento que possa ser receitado, comprado e engolido, mas um produto agrícola que tem de ser semeado, colhido e posto à venda na praça, sabemos, com toda a certeza, que estamos lixados.» [Público assinantes]

Parecer:

Por Miguel Esteves Cardoso.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

QUATRO ANOS

«Excepção feita à crítica às grandes obras públicas com que José Sócrates espera disfarçar a crise e o desemprego e deixar marca na geografia e na despesa de Portugal, não há nada mais, no balanço feito por Manuela Ferreira Leite aos quatro anos de Governo socialista, que eu subscreva. Não é verdade que tenha sido a governação financeira dos três primeiros anos a razão da crise hoje vivida. É redondamente falso: foi a política de contenção do défice público (com crescimento económico reduzido, mas, apesar de tudo, positivo), que permitiu que o país não fosse apanhado de calças na mão, quando toda a economia mundial implodiu, arrastada pelo estouro do sector financeiro e imobiliário americano. Esses três anos dedicados a pôr um travão ao grande deboche financeiro dos Governos Durão Barroso e Santana Lopes (de que ela fez parte, como ministra das Finanças) é o que hoje consente ao Estado ainda ter alguma capacidade de intervenção contra a crise e de endividamento externo.

Também não é verdade que o Governo de José Sócrates tenha adoptado uma política de “conflito e humilhação” com largos sectores do funcionalismo público, como professores, médicos, juízes, polícias, militares. Pelo contrário: o conflito e o papel de vítimas humilhadas foi a atitude adoptada por todos os sectores corporativos que se sentiram pela primeira vez ameaçados por um Governo que finalmente ousou desafiar privilégios adquiridos sem justificação. É certo que muitas vezes o Governo se precipitou na ânsia de fazer rapidamente reformas que esperavam desde o salazarismo e o PREC a oportunidade de serem feitas (ainda há dias a Comissão Europeia chamava a atenção para a morosidade dessas reformas), e que outras vezes lhe faltou humanamente a paciência para tentar convencer quem supostamente serve o Estado que não tem de se servir primeiro a si próprio. Manuela Ferreira Leite (que já foi ministra da Educação) deve saber que o Governo tem toda, toda a razão no conflito com os professores; deve saber que as reformas do ex-ministro Correia de Campos na Saúde revelavam coragem e reflexão adequada e que acabaram derrotadas pela demagogia local e corporativa; deve saber que a reforma do financiamento da Segurança Social (que Cavaco Silva e depois Guterres tinham jurado ter assegurado até ao século XXII) salvou o sistema de uma bancarrota iminente, tornada inevitável pela simples evolução demográfica; deve saber que, se alguma coisa falhou, na reforma da legislação laboral, foi a timidez motivada pelo medo de enfrentar a contestação generalizada dos sindicatos, não se ousando ainda quebrar a funesta aliança entre a lei e a jurisprudência, num sistema que protege os trabalhadores maus, afasta o emprego jovem e asfixia as pequenas e médias empresas. Assim como deve saber, inversamente, que foi a total ausência de ousadia em reformar a Justiça de alto a baixo (excepto uma nova e mal amanhada legislação penal) que contribuiu para que a Justiça seja a coisa mais injusta que existe em Portugal e o ministro Alberto Costa a figura mais decorativa deste Governo. Mas, curiosamente ou não, é nas áreas onde o Governo tem sido pior que o PSD mais tem estado ausente nas críticas: na política para a comunicação social (a inacreditável e até suspeita abertura a um 5º canal de televisão, a suposta lei contra as ameaças à liberdade de imprensa, agora vetada por Cavaco Silva), protagonizada pelo espalha-brasas do ministro Santos Silva; a política externa a que preside o sempre popular MNE (neste caso, Luís Amado, que só passará à história pelo insustentável reconhecimento do Kosovo); a política de Segurança Interna, onde um ministro de ocasião flutua sem rumo; ou a política predadora do Ambiente, encabeçada por um ministro verbo-de-encher. Sobre tudo isto, o PSD não tem política alternativa, não tem críticas a fazer, acha, como Sócrates, que não tem grande importância porque não é aí que se decidem votos.

Os quatro anos de Governo Sócrates têm, para mim, dois períodos claramente distintos: o primeiro período de três anos, em que José Sócrates fez planos para arrumar as contas públicas e ensaiar um mínimo de reformas no aparelho de Estado, de modo a que, tendo servido à partida a parte má — como mandam os livros — poder depois viver um ano de descompressão e benesses que lhe garantiriam tranquilamente uma maioria absoluta. E tão mais tranquila, quanto a verdadeira oposição só existiu nas franjas da direita (PP) e da esquerda (BE): o PCP manteve-se no eterno sono leninista, não acreditando já em poder tomar o poder a partir da rua, mas acreditando ainda que a rua podia impedir qualquer Governo de governar, mesmo um de maioria absoluta; e o PSD, entre Marques Mendes, Filipe Menezes, Ferreira Leite e o fantasma de Marcelo Rebelo de Sousa, viveu na deliquescência fútil em que sempre mergulha longe do poder. Se as eleições tivessem sido há um ano, e ainda no rescaldo do grande êxito pessoal que foi a presidência europeia e a cimeira de Lisboa, José Sócrates teria ganho com perto de 50% dos votos.

A partir daí, começaram os sarilhos: as manifestações de professores, a Universidade Independente, os projectos da Guarda do jovem engenheiro Sócrates, a impaciência de Manuel Alegre com o ‘seu’ milhão de votos. Mas para tudo isso ele chegava de carrinho: só uma tempestade poderia fazer alterar radicalmente as coisas. Não seguramente a oposição — fosse a do Parlamento, a interna ou a da rua. E aconteceu a tempestade. Desencadeada lá longe, graças à irresponsabilidade do sr. Greenspan, à cobiça insane dos Madoff dos EUA e à imbecilidade decisiva do sr. Bush. E graças à irracionalidade e amoralidade de um sistema financeiro especulativo que se apoderou da economia — e que, internamente, Sócrates tanto consentiu e estimulou também.

Quando as nuvens negras pressagiando uma tormenta nunca vista se começaram a acumular no horizonte, Sócrates e Teixeira dos Santos (que tão bem tinham sabido gerir em tempos de problemas habituais e conhecidos), começaram por não acreditar que o tufão que se desenhava pudesse chegar a este lado do Atlântico. Nisso, estiveram, aliás, muito bem acompanhados por toda a gente — aqui, na Europa e no resto do mundo. Quem disser que previu e que aconselhou a tempo, que se candidate ao próximo Nobel de Economia. E ainda terá de demonstrar que, mesmo avisado e reagindo antes, alguém, algum país, poderia ter escapado à crise actual. Sócrates não foi excepção, mas deixou a desagradável impressão de ter começado por ceder ao pânico inicial, precipitando-se a despejar dinheiro do Estado para cima de todo e qualquer sobressalto (como o BPP e o BPN), anunciando uma nova obra pública a cada nova notícia de despedimentos, distribuindo tantos milhões por toda a gente que já ninguém consegue fazer contas e perceber de onde vem tanto dinheiro, até onde durará e até quando será necessário pagá-lo mais tarde.

Agora, a sensação que tenho é de que José Sócrates governa à vista e tem uma vela acesa ao Senhor dos Aflitos cada dia que acorda. Está sem rumo, claro: está o mundo inteiro sem rumo e não é Obama qualquer um. A capacidade de reunir os povos em tempos de crise, mesmo “tendo apenas para prometer sangue, suor e lágrimas” é o que distingue um estadista de um simples político. Desgraçadamente, o tempo dos estadistas já morreu na Europa: basta pensar que Durão Barroso é presidente da Comissão Europeia e está tudo dito. » [Expresso assinantes]

Parecer:

Por Miguel Sousa Tavares.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Afixe-se.»

SÓCRATES ACUSA CGTP DO ÓBVIO

«O primeiro-ministro, José Sócrates, acusou hoje os sindicatos afectos à CGTP-IN de serem instrumentalizados pelos interesses eleitorais do PCP e do Bloco de Esquerda, criticando as manifestações por se limitarem ao insulto pessoal.

José Sócrates falava aos jornalistas, este sábado, no final de três dias de visita oficial a Cabo Verde, sobre a manifestação da CGTP-IN de ontem, em Lisboa, que terá tido uma participação de cerca de 200 mil pessoas. » [Correio da Manhã]

Parecer:

Sócrates cometeu o erro de ter adiado o confronto com a extrema-esquerda.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Aprove-se.»

MOVIMENTOS "INDEPENDENTES"

«Os cinco movimentos independentes de professores reunidos hoje, em Leiria, aprovaram por maioria a proposta de realização de um crachá com inscrições "Sou professor não voto neste PS" e "Sou professor não voto em Sócrates".

No Encontro Nacional de Professores em Luta, foi ainda decidido solicitar aos sindicatos para que junto das escolas "discutam as acções a encetar até ao final do ano", revelou o responsável do Movimento para a Mobilização e Unidade dos Professores, Ilídio Trindade.» [Expresso]

Parecer:

Há muito que é evidente que estes movimentos são tudo menos independentes.

Despacho do Director-Geral do Palheiro: «Responda-se com uma campanha contra os professores.»

PODE IR PARA A CADEIA POR TER ARRANCADO A LÍNGUA DO NAMORADO COM UM BEIJO

«Hay besos que pueden llegar a hacer mucho daño y si no que se lo pregunten al novio de Tracy Davies, de 40 años, que tras un tórrido beso le arrancó un tercio de la lengua a Coghill Marcos.

Los hechos ocurrieron el octubre pasado cuando, tras beberse cada uno una botella de vodka celebrando el cumpleaños de éste, se produjo el 'ataque' en su apartamento de Jesmond, Newcastle.» [20 Minutos]

PACHECO PEREIRA TEVE UMA RECAÍDA

Ao ler este post do Abrupto recuei no tempo e pensei que estava a ler o jornal "O Grito do Povo", um jornal da velhinha Organização Comunista Marxista Leninista, onde Pacheco Pereira militou antes de se apaixonar pelo PPD.

Eu compreendo que o PSD acarinhe todas as iniciativas do PCP, até admito que as autarquias daquele partido ponham os autocarros do Estado a transportar velhinhos dos centros de dia para as manifestações com oferta de um lanche no Parque das Nações, mas ver o Pacheco Pereira convertido já é demais para o meu entendimento. Por este andar ainda vamos ver o Pacheco Pereira a cantarolar as músics do Tino Flores nas reuniões do Conselho Nacional do PSD.

Mas, enfim, desde que vi um porco a andar de bicicleta já avredito em tudo.

MAX-COIL

O CARTOON DO ANTÓNIO NO EXPRESSO: CHUVA ÁCIDA

O.B.