quarta-feira, junho 10, 2009

Portugal tem hipóteses?

No contexto mundial resultante da globalização um país não precisa de fazer reformas deve fazê-las permanentemente de forma a assegurar a sua competitividade. E no caso de Portugal a situação é mais complexa, além das exigências decorrentes das mudanças mundiais há os factores que nos prendem ao subdesenvolvimento há décadas cuja eliminação exigem reformas sempre adiadas.

Durante décadas o país suportou uma ditadura paternalista que criou nos portugueses a ideia de que o Estado tudo resolve, que todos os problemas do cidadão, desde a saúde aos depósitos bancários desastrosos são resolvidos pelo erário público. Era o preço de a política ser para os políticos, os cidadãos podiam ficar tranquilos que para resolver os problemas estão os políticos. Talvez isso explique a má opinião que temos dos políticos, supostamente eles deveriam resolver todos os problemas de forma indolor, os nossos e os do país, mas ficamos desiludidos, não os resolvem.

A par deste encosto aos políticos os portugueses habituaram-se a não fazer grandes sacrifícios, o Salazar poupou-nos da guerra e da reconstrução, a economia assente em indústrias de mão-de-obra intensiva dispensava-nos de grandes estudos. Enquanto portugueses somos poucos dados a grandes esforços e sacrifícios, queremos viver como os mais ricos mas devemos chegar lá pela via mais fácil, o Estado paga.

A democracia não mudou muito a nossa realidade, multiplicou os políticos e acrescentou-lhes uns quantos grupos corporativos que vivem à custa do orçamento. Grupos profissionais que durante a ditadura foram um modelo de cobardia e de colaboração vergonhosa com a repressão, como se via nos tribunais plenários, armam-se agora em grandes defensores da democracia exigindo dos políticos a manutenção concedida por governos fracos sob pena de abrirem a caixa de Pandora.

Governo que pretenda mudar Portugal deve fazê-lo sem aumentar impostos, sem retirar mordomias oportunistas como o subsídio de residência dos magistrados, sem exigir prestações profissionais de qualidade aos que são bem pagos pelo Estado. Ao mesmo tempo deve distribuir dinheiro para que os portugueses tenham infra-estruturas e consumo ao nível dos mais ricos.

Enquanto o mundo quase pôs fim ao comunismo, restam apenas alguns regimes absurdos e moribundos, uma boa parte dos portugueses acha que foge à crise votando naqueles que foram incapazes de reconhecer os erros da história ou de outros que vendem uma marca branca de comunismo para esconderem a admiração pelos piores ditadores, como Estaline, Enver Hodja ou Pol Pot.

Manuela Ferreira Leite chegou a dizer, não se sabe se a brincar ou a sério, que sem uma ditadura as reformas são impossíveis. Provavelmente tinha razão, resta-nos sermos uns espertalhões no nosso país ou emigrar e lá fora sim, somos bons, sabemos trabalhar e arregaçamos as mangas, talvez por não termos o direito de influenciar as decisões.