segunda-feira, julho 12, 2010

Balneário

Depois de ter ganho a final do mundial de futebol o treinador da Espanha deu uma pequena entrevista em directo em que destacou que durante os cinquenta dias de campanha do mundial não houve o mais pequeno incidente. Notável, na mesma semana em que os catalães se manifestaram pela independência as estrelas do Barça honraram a camisola da Espanha, nem mesmo depois da derrota frente à Suíça.

A verdade é que as grandes vitória começam no balneário, de pouco nos servem os craques ou os treinadores com vastos conhecimentos científicos se a equipa não o é, não joga enquanto tal, se os jogadores fazem o frete de vestir a camisola e estão mais preocupados em evitar uma lesão. Isto é verdade tanto para o futebol, como para a política ou como para a gestão empresarial.

Não é só no futebol que Portugal tem problemas no balneário, assistimos ao mesmo espectáculo dentro de cada partido e, pior ainda, no relacionamento institucional entre Presidência da República. Deco ia sendo crucificado e, por estar lesionado ou talvez não, não voltou a jogar no mundial, mas o que o antigo jogador do Porto fez não é nada ao pé do que Cavaco tem feito ao governo, é rara a decisão, opção estratégica ou medida do governo que não merece de Cavaco Silva um comentário à Deco. Quantas vezes as intervenções de Cavaco Silva são a versão política da sugestão de Ronaldo para que perguntassem a Queiroz?

Se houvessem golos na política Portugal teria perdido com a Espanha por sete a zero, tal é a confusão que vai neste balneário, é Cavaco a não perder a oportunidade para tirar o tapete a José Sócrates, Pedro Passos Coelho a ir a Espanha criticar a táctica da sua própria equipa, Manuel Alegre a passar a bola aos adversários durante a maior parte do campeonato, os magistrados da partida a mostrarem cartões a Sócrates pelo que fez, pelo que não fez, pelo que dizem que fez, pelo que se julga que vai fazer, são os seus colegas de partido a manifestarem a disponibilidade para o substituir no caso de haver uma chicotada psicológica.

Outra coisa não seria de esperar, aquilo a que temos assistido nos balneários dos partidos nada mais é do que o que ocorreu com a selecção, a única excepção ocorre no PCP onde as regras são as da Coreia do Norte, ali só o líder fala e quem fala ou diz o que disse o líder ou elogia o líder.

Portugal tem um problema sério no balneário, são mais os que se querem servir da equipa do ajudar a equipa a ganhar, temos vedetas que pouco têm a ganhar com a selecção, temos jogadores velhos e cansados que se arrastam no campo impedindo os mais novos de jogar, temos celebridades que receiam o dinheiro que perdem no caso de se lesionarem ao serviço da selecção, temos treinadores que se recusam a perceber que com eles a equipa não chega ao título.