sábado, julho 03, 2010

Banalidades

Uma das coisas que mais impressiona no nosso debate político é o baixo nível intelectual das discussões e o facto de uma boa parte do que se diz não passam de banalidades, se muitos dos debates fossem feitos na tasca da esquina ninguém sentiria a diferença. Um bom exemplo disso foi a posição do secretário-geral do PSD a propósito das SCUT, o PSD chamou os jornalistas para Miguel Relvas, com aquele ar de Macário Correia da capital, dizer de cima de um palanque devidamente decorado com a imagem do PSD versão Fomentivest que “ou pagam todos ou não pagam nenhum”, a versão intelectual do “ou há moralidade ou comem todos”.

Veja-se o caso de Manuel Alegre, o seu discurso político está para a poesia como a música clássica está para a música pimba, o seu discurso de candidato presidencial não passa de uma mistura de bojardas de extrema-esquerda com a linguagem de um cristão novo que não perde uma oportunidade para elogiar tudo o que Sócrates decide, ele que durante cinco anos alimentou páginas de jornais e aberturas de telejornais aproveitando todas as oportunidades para afundar o primeiro-ministro, só se calando quando os magistrados tentaram queimar Sócrates na praça pública levando mesmo vozes do PS a dizer que “há sempre quem se cale”.

E o que dizer do discurso de Cavaco Silva? Descontando as baboseira que de vez enquanto diz, lembrando as do Almirante Américo Tomaz, o Presidente da República é um especialista em não comentar ou em comentar quando se espera que fique calado. Compare-se a pressa com que entreviu quando se soube que a PT pretendia comprar a TVI com o seu silêncio quando estava em causa a venda da Vivo. Finalmente veio dizer que cabia ao governo defender o interesse nacional usando a golden share, algo de que se esqueceu no negócio da TVI.

Passos Coelho decidiu seguir ficar calado sabendo que quando abre a boca ou entra mosca ou sai asneira, agora comporta-se como um político ventríloquo, quando quer prometer não liberalizar o despedimento manda o seu coordenador da revisão constitucional fazer essa promessa, quando quer que os seus autarcas fiquem descansados que os respectivos eleitores não pagarão portagens manda o Relvas dizer que “ou pagam todos ou não pagam nenhum”, quando não quer que se saiba o que disse fica calado e só depois sabemos que já se reuniu com o amigo Paulo Portas para lhe prometer um gabinete ministerial para comprar submarinos.

Quando o país carece de soluções ouvem-se atoardas, quando o país precisa de um discurso sério ouvem-se banalidades, quando o país carece de lideranças temos dois candidatos presidenciais que parecem os velhos dos Marretas, quando país carece de seriedade aparece o Freitas do Amaral a apoiar Cavaco depois de este lhe ter comprado pelo menos um parecer jurídico que de nada serviu pois o Tribunal Constitucional mandou-o para o cesto dos papéis.

Falta por cá um Rei Juan Carlos para lhes perguntar "por qué no te callas?".