quinta-feira, julho 22, 2010

Volta Manuela, estás perdoada!

Quando Pedro Passos Coelho sucedeu a Manuela Ferreira Leite cheguei a pensar que se respirava melhor neste país, ainda que não fosse um grande admirador das suas ideias, ou melhor da sua falta de ideias, pareceu-me que o PSD tinha deixado a estratégia dos golpes baixos que marcaram a agenda política da sua anterior liderança, em que o debate político foi transformado em guerrilha.

Quando Passos Coelho desvalorizou a comissão parlamentar de inquérito ao negócio da TVI considerei um sinal positivo de rotura com aquilo que permanecia como um símbolo dos tempos em que a função de estratega e ideólogo do PSD foi entregue a Manuela Ferreira Leite. Mas a ilusão durou pouco, animado pelas sondagens Passos Coelho descobriu que as conclusões da comissão poderiam ser-lhe úteis, só que a crise financeira levou-o a achar que seria melhor Sócrates aguentar o governo enquanto não viessem melhores dias e as conclusões dessa comissão não passaram de provas que andavam na imaginação do relator. A comissão acabou de forma triste, diria mesmo que foi um dos momentos menos dignos da história do PSD, com os seus deputados a aplaudir o relator da extrema esquerda e a ficarem mudos enquanto Mota Amaral reafirmava os princípios que sempre foram os do PSD.

Afinal, os bons princípios de Pedro Passos Coelho não passam de pura cosmética eleitoral, sem penteado e sem princípios fica pouco, sem projecto, sem ideias e sem independência em relação a interesses económicos o actual líder do PSD consegue o que eu imaginava ser impossível, ter saudades de Manuela Ferreira Leite.

A Manuela Ferreira Leite não passaria pela cabeça transformar o SNS num serviço de saúde para indigentes para desviar os utentes lucrativos para grupos como o Grupo Mello, por mais tenebrosas que fossem as manobras estratégicas de Pacheco Pereira nunca Ferreira Leite usaria algo tão sério como a aprovação de um Orçamento de Estado como chantagem para fazer aprovar uma revisão constitucional feita por um grupo de amigos à volta de umas bicas.

Parvoíces como a claustrofobia democrática ou mesmo a histeria em relação ao negócio da TVI são não são comparáveis ao descalabro das propostas que Pedro Passos Coelho tem vindo a apresentar desde que as sondagens o animaram. O PSD apresentou um programa mínimo para resolver os problemas do país, o PSD de Passos Coelho ainda não apresentou uma única ideia, um único projecto para os resolver, em vez disso está convencido de que com os deputados do PS consegue fazer aprovar uma revisão constitucional que transforma Portugal no modelo de um liberalismo oportunista e que é o governo actual que suportará os custos da maior crise financeira que o capitalismo enfrentou.

Pedro Passos Coelho, inspirado em ideólogos como Ângelo Correia ou Paulo Teixeira Pinto, bate em oportunismo a Manuela Ferreira Leite animada por Pacheco Pereira, mas bate-a também em falta de ideias e de propostas para superar os problemas e, acima de tudo, bate-a na tentativa de espoliar a pouca riqueza que resta ao país em favor de grupos empresariais.

Ainda pensei que com Passos Coelho casos como o Freeport deixassem de ser usados como instrumento de destruição política dos adversários, mas até nisso me enganei. Mal Pedro Passos Coelho começou a dar tiros no pé o Caso Freeport foi ressuscitado na comunicação social.

Nunca esperei fazê-lo, até porque como escrevi no inicio Passos Coelho parecia uma lufada de ar fresco, mas tenho que reconhecer que já me apetece dizer “volta Manuela, estás perdoada!”.