Caro Durão Barroso,
Escrevo-lhe para lhe manifestar a minha admiração que tenho por si, reforçada pela coragem que teve em assumir que foi enganado. Um engano qualquer um tem e se formos enganados por gente de reconhecido rigor e honestidade como Bush, Blair ou Aznar, mesmo que o tenham feito inadvertidamente ou com a melhor das intenções de nada nos podem acusar, não passaria pela cabeça de ninguém duvidar da palavra do George ou dos documentos da CIA onde se assegurava que o Iraque estava atulhado de armas de destruição em massa.
Confesso que estava a ficar preocupado, depois de Bush, Blair e Aznar terem reconhecido em público que tinha havido um pequeno engano comecei a recear que o seu silêncio poderia levar muitos a pensar que o responsável pelo erro era o Zé.
Enganos à parte foi azar, o passeio a Bassorá do Agrupamento Alfa teria sido um bom negócio se as coisas tivessem corrido bem, agora teríamos a Brisa a construir a auto-estrada entre Bassorá e Bagdad, a Efacec a construir o novo parlamento local, a Optimus a gerir uma rede de telemóveis e o primeiro-ministro do Iraque a beber o nosso tinto às escondidas. Enfim, fica para a próxima.
Mas correu quase tudo mal, os negócios não se fizeram e como se isso fosse pouco nem conseguimos vender a Galp aos amigos da Carlyle com dinheiro emprestado pela CGD. Restou-nos a gratidão e compreensão da Europa e o meu amigo teve um cargo à altura da sua dimensão. O reconhecimento que não teve por cá conseguiu-o na Europa onde todos os seus líderes lhe pedirem para esquecer a candidatura de António Vitorino e propor o seu próprio nome para o cargo de presidente da Comissão.
Fez bem, o interesse da Europa era o interesse do seu país e Santana Lopes já tinha provado na CML que daria um bom primeiro-ministro, foi cuidar da Europa e o país bem entregue. Só é pena que eu seja um dos poucos portugueses que o entende, que lhe reconhece mérito e consegue ver a sua honestidade e integridade.
Creio que acredito em tudo o que nos diz, acredito que foi enganado, acredito que só agora percebeu o engano, acredito que não traiu António Vitorino, acredito que foi para Bruxelas a pensar no interesse do país, enfim, acredito em tudo o que o Zé quer que eu acredito.
Não me alongo mais pois está na hora do intervalo aqui no Júlio de Matos.
Um seu admirador.
Abraço.