Perdida a esperança de ir para assessor, adjunto, chefe de gabinete, subdirector-geral, director-geral, administrador ou vogal da administração dos hospitais-empresa, da administração de um porto ou da Docapesca, ou mesmo governador civil ainda que este último cargo pareça estar reservado a esposas de governantes e altos dirigentes do PS, eis que a esperança de ter o meu lugarzinho ao sol finalmente me sorriu, graças à reforma dos consulados vou para vice-cônsul de Portugal em Sevilha. Até já pensei em lá ir para ver se os Borbons têm algum palacete residencial com vista para o Guadalquivir, adequado ao meu elevado estatuto de representante da Nação por terras de Espanha conquistadas pelos reis católicos aos sarracenos.
Depois de ter desistido vejo-me recompensado, já não tenho que me irritar por os assessores do PSD chegarem a secretários de Estado dos Assuntos Fiscais ou de ter que tropeçar todos os dias com distintos assessores que nunca tinha visto, renasce a esperança de um dia melhor, livre de indisponíveis e de cortes orçamentais necessários para salvar o país. Uma esperança merecida depois de neste blogue já me terem chamado de xuxa a nomes que nem o professor Charrua imagina existirem, capazes de ofender Sócrates até à quinta geração.
Eu sei que não tenho muito jeito para o champanhe, que tenho dificuldades em lidar com mesas com mais de quatro talheres e um copo, que as minhas costelas espanholas não ajudam as cordas vocais a passar do portanhol. Mas não faz mal, o ministro dos Negócios Estrangeiros sabe que não pode esperar muito dos boys e prepara uma reforma em que para se chegar a vice-cônsul basta saber distinguir uma gravata Burberrys de umas calças terilene.
Ainda bem que os emigrantes se manifestaram contra o encerramento dos consulados, ajudaram o Luís Amado a matar dois coelhos com uma cajadada, ficou bem na fotografia e arranjou dezoito lugares que vêm mesmo a calhar, deixou de ser necessário ser diplomata para ser diplomata, e ainda pode dizer que poupou muito o orçamento porque para estes "diplomatas" formados na escola das "novas oportunidades" dispensam-se os talheres de prata, sempre sobra para os mandar tirar um curso de boas maneiras com a Paula Bobone que fica mais barato que o estágio de ingresso na carreira diplomática.
Sinto-me tão grato a Amado e às suas artimanhas imaginativas que neste momento, em que me julgo quase livre do fado português, lhe dedico um momento de flamenco interpretado por Paco de Lucia, La Barrosa:
Agora é só esperar que o Amado aprove o regulamento e vou meter a cunha para ser vice-cônsul de Sevilha, daqui a uns tempos lá irei, com o burro e a carroça enfeitada a condizer, em peregrinação à Nuestra Señora del Rocio para lhe agradecer por esta graça.