sexta-feira, novembro 30, 2007

O que é feito do proletariado?


Na ortodoxia leninista o proletariado é a vanguarda da classe operária, uma vanguarda no sentido em que é a mais capaz de liderar a mudança da sociedade defendida pelos leninistas. Mas, parece que o capitalismo português é mais uma situação atípica, não se ouve falar do proletariado, o único “proletário” conhecido é Jerónimo de Sousa que segundo consta na sua biografia é metalúrgico.

Vale a pena perguntar onde está o proletariado? Esta é n-ésima greve promovida pela CGTP nestes últimos dois anos, e, mais uma vez, são os funcionários públicos a fazê-la, quando não são as empresas de transportes públicos são os médicos, quando não são os médicos são os professores, quando não são os professores são os trabalhadores da recolha ou tratamento do lixo, de vez em quando são todos. A excepção é os trabalhadores das empresas privadas e, muito raramente e apenas em situação limite, os proletários.

Porque será?

As respostas são mais ou menos evidentes mas mereceria uma discussão, até porque a morte lenta do sindicalismo não anuncia nada de bom para os trabalhadores, a sua capacidade reivindicativa é cada vez menor, a evolução do PSI20 desperta mais atenção do que qualquer indicador salarial.

Até um governo que usa a designação de “socialista”, mais como uma marca registada do que como um código de princípios, desvaloriza os trabalhadores. Quando o primeiro-ministro viaja desdobram-se junto da comunicação social dizendo qual a percentagem do PIB que vai no Airbus governamental, como se as centenas de trabalhadores empregados pelos distintos accionistas maioritários do Rendimento nacional que foram convidados a viajar com Sócrates mais não sejam do que bichos-da-seda.

É urgente repensar o sindicalismo e a questão da defesa dos direitos dos trabalhadores num contexto, económico, político e social muito distinto do dos tempos da Revolução Industrial que deram lugar a pensamentos e modelos políticos e sindicais que insistem em não aceitar que o mundo mudou num sentido muito diferente daquele que as suas teorias políticas científicas davam como certo.

Sem a ameaça do comunismo e das armas nucleares os patrões perderam o medo, uma boa parte deles até perderam a vergonha, a corrupção e o enriquecimento fácil e rápido dos políticos esbateram as diferenças entre governos de esquerda e governos de direita, as mudanças nos modelos de organização empresariais tornaram ineficazes um modelo de sindicalismo estrutura de forma clerical.