Quem ainda não sentiu necessidade de mandar calar alguém, de lhe dizer que perdeu uma oportunidade de ficar calado? O “por que no te callas?!” do rei de Espanha caía que nem ginjas quando o Mário Lino chamou deserto à margem sul ou a quase todas as intervenções públicas de Pedro Santana Lopes.
O rei Juan Carlos disse o que muitos gostariam de dizer mas o momento em que o fez e com quem o fez gerou opiniões para todos os gostos, os monárquicos viram aí a oportunidade de renascer uma monarquia que dificilmente passará o testemunho ao príncipe herdeiro, os republicanos mais empedernidos defendem Chávez, os franquistas espanhóis sentiram-se vingados das ofensas ouvidas. Uma tal atitude no contexto e com os intervenientes que envolveu dá para todos os gostos.
Juan é um monarca não eleito e entronado por Franco numa cerimónia que o pai do monarca não reconheceu, Chávez é um presidente eleito democraticamente. Juan ganhou legitimidade democrática ao promover a transição para a democracia, Chávez perde a legitimidade democrática ao usar os mecanismos da democracia para a transformar em ditadura.
Não simpatizo com Juan Carlos e muito menos com a monarquia espanhola mas não posso deixar de constatar que os que agora questionam a sua legitimidade não o fizeram quando o rei de Espanha vestiu a farda de chefe das forças armadas e fez frente ao golpe do tenente-coronel Tejero Molina, os que acham que Chavez tem o direito de dizer o que lhe apetece porque foi eleito esquecem que também o faz em relação a outros presidentes eleitos, como sucedeu com Lula a quem chamou jocosamente magnata do petróleo.
Confesso que fiquei com inveja de Juan Carlos, gostaria de ter sido eu a dizer-lhe “por que no te callas?!”.