quinta-feira, novembro 15, 2007

Um ministério (ministro) bem sucedido(?)


Quando no passado se falava dos progressos na nossa agricultura era inevitável a referência à redução da população activa agrícola como suposto indicador de desenvolvimento, a diminuição da população que trabalhava no sector pressupunha uma melhoria das estruturas fundiárias e um aumento da produtividade.

Lembro-me de ter ouvido Falcão e Cunha, ministro do Trabalho de um governo de Cavaco Silva usar uma descida brutal da população agrícola como um dos indicadores de desenvolvimento desse tempo. Interroguei-me sobre o destino de tanta gente já que a taxa de mortalidade não tinha registado um aumento abrupto, o governo não tinha adoptado nenhuma política de reconversão profissional nem promovido qualquer programa de ajuda ao rendimento de tanta gente que poderia ter ficado sem forma de vida. Imaginei-os a arrastarem-se pelas tabernas das aldeias, a caminho das obras das auto-estradas ou da emigração, entregues à sua sorte em nome de tão brilhantes indicadores de progresso.

Nos tempos que correm já não se poderão registar “progressos” ao nível do abandono da agricultura e sou surpreendido por novos indicadores de sucesso da nossa agricultura, sempre que ouço falar do ministério da Agricultura [Público] é para saber quantos funcionários já foram colocados nos disponíveis. Parece que o problema da nossa agricultura é sempre a mais, dantes eram os que trabalhavam no sector, agora que estes são quase tão raros como o lince ibérico são os funcionários do ministério da Agricultura.

Imagino que o grande progresso do sector na próxima legislatura será acabar com o ministério pois com a Docapesca privatizada, a pesca entregue a viveiros de pregados e trutas salmonadas, os agricultores a jogar ao dominó para disfarçarem reformas miseráveis em garrafas de minis e os funcionários públicos nos disponíveis o único progresso possível será dispensar os governantes do sector.

Aliás, essa mudança até já poderia ser processada na presente legislatura pois pelas intervenções de Jaime Silva vejo-o mais como um subsecretário de Estado do secretário de Estado da Administração Pública do que como um ministro das Finanças. A política agrícola ficaria entregue à REPER e à generosidade dos funcionários da Comissão, pouparíamos tempo, dinheiro e paciência, o resto ficaria entregue às assistentes sociais, aos museus etnográficos e aos bombeiros.