quarta-feira, novembro 28, 2007

Em defesa de António Guterres

António Guterres é um dos políticos portugueses em que mais se bate, as televisões não perdem a oportunidade de colocar o vídeo da baralhação das contas, o PSD não perde a oportunidade de falar em pântano e abandono, até no PS não faltam os que fazem por se esquecer daquele que conseguiu a primeira maioria absoluta deste partido, quem não tem nada para fazer desanca em Guterres.

Até Soares usa Guterres para elogiar Sócrates, onde o ex-primeiro-ministro tinha defeitos Soares vê qualidades em Sócrates, chega mesmo a afirmar que "José Sócrates é mesmo o anti-Guterres é um homem de extrema determinação", recorrendo ao esteriotipo de Guterres criado pela direita, a mesma que diz que Sócrates é autoritário. O próprio Sócrates aproveita a oportunidade para dizer que o seu governo foi o que mais se preocupou com as questões sociais desde há 30 anos, deitando para o lixo todo o património político do seu partido, incluindo o do próprio Mário Soares.

Perante os disparates de Soares ninugém saiu em defesa de Guterres, nem para dizer que se o antigo primeiro-ministro meteu o socialismo na gaveta, como afirmou Soares, o actual deve tê-lo guardado num armário da Torre do Tombo. O poder é de Sócrates, desde a directora da DREN até Soares, que parece ter ganho mais uma vida graças aos vapores do crude, todos estão empenhados em elevar Sócrates a qualquer custo.

Admiro Mário Soares pelo que fez e pelo que representa para a democracia portuguesa, até o considero suficientemente inteligente para conseguir promover Sócrates sem afundar Guterres. Tão inteligente e com tão grande experiência política que o gesto não pode ser considerado um descuido.

É bom recordar que foi com Guterres que Portugal reduziu o défice e a dívida pública a níveis que permitiram a Portugal entrar no Euro, é bom recordar que uma boa parte das obras públicas atribuídas ao cavaquismo foram realizadas ou concluídas pelos governos de Guterres, é bom recordar que durante os governos de Guterres Portugal apresentou boas perfomances no plano dos indicadores sociais.

É bom lembrar o trabalho feito por um ministro das Finanças chamado Sousa Franco, de que o actual foi um ajudante, da mesma forma que o actual ministro do Trabalho foi ajudante de Ferro Rodrigues, o próprio Sócrates aprendeu a ser ministro com Guterres, o mesmo sucedendo ainda com Mariano Gago. E nem vale a pena dizer que do governo de Sócrates fazia parte António Vitorino, o político do PS que os portugueses desejaram para primeiro-ministro e que ao recusar candidatar-se abriu a porta do poder a Sócrates.

Surpreende o frenesim de Mário Soares e o seu empenho em apoiar tão activamente Sócrates, coincidência ou não parece ter sido o negócio do petróleo que reanimou Mário Soares. É evidente que a sua ajuda no negócio do petróleo foi desinteressada, como também é desinteressada a participação da sua Fundação no capital da Fomentiveste *. Recorde-se que a Fomentiveste foi a testa de ferro numa tentativa de compra da Galp pela Carlyle com dinheiro barato da Caixa Geral de Depósitos, como então Louça denunciou no parlamento, deixando Durão Barroso a gaguejar num parlamento onde o PS manteve o silêncio. A Carlyle é uma empresa de gestão de fundos ligada aos amigos de Bush. A escolha de Fernando Gomes para a administração da Galp, com o pelouro da exploração, também terá sido outra coincidência.

Guterres pode ter cometido muitos erros enquanto primeiro-ministro mas merece mais consideração do que ser usado como bitola defeituosa para a avaliação e engrandecimento de Sócrates. Guterres enfrentou problemas nacionais e familiares que Sócrates não teve de enfrentar, teve uma oposição que Sócrates não tem. Hoje é fácil de bater em Guterres, os derrotados estão a vingar-se. Seria fácil a Soares elogiar Sócrates sem recorrer a terceiros, Cavaco tem sabido fazê-lo.

* "A Fomentinvest, sediada em Lisboa, é participada pela IP Holding (20%), Fundação Ilídio Pinho (48%), Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento (20%), Fundação Horácio Roque (10%), Fundação Mário Soares (1%) e Fundação Portugal África (1%). O Banco Africano de Investimentos terá entre 5 a 10%, uma posição a ceder pela Fundação Ilídio Pinho. Do conselho de administração executivo fazem parte Ângelo Correia, o presidente, Couto do Santos e Fernando Durão. Do conselho de administração não executivo faz parte o próprio Ilídio Pinho, que preside, Rui Machete e Tavares Moreira." (Energias Renováveis Link)