sexta-feira, novembro 16, 2007

Decisão técnica ou decisão política?


Animados pela sua opção são muitos os que neste debate sobre a localização do novo aeroporto estão a deixar de questionar princípios se daí resultarem vantagens aparentes para a sua opção. Alguns dos que se opõem à Ota já defenderam mesmo a realização de um referendo, a solução encontrada em Portugal para dar uma segunda oportunidade àqueles cujas opiniões políticas não mereceram a escolha da maioria.

Devido a uma iniciativa da CIP o debate passou a centrar-se na opção técnica, a estratégia da confederação patronal foi impor promover um estudo para que o processo de decisão fosse invertido, em vez de caber aos técnicos encontrar soluções passaram a ser os técnicos a adoptar a decisão. A decisão mereceu o aplauso de todos os que se opõem à Ota desde os líderes do proletariado aos partidos que se sentem marginalizados do bolo das comissões e financiamentos ilegais.

Passamos a ter uma democracia refém de pareceres técnicos encomendados por quem não gosta das decisões de um governo legítimo eleito em democracia. É evidente que para os autarcas da margem sul pouco importa quantas pontes vão ser construídas, da mesma forma que os da zona da Ota acham que o aeroporto serve mais para beneficiar a sua região do que para ser um aeroporto que supostamente era para servir a capital.

Nesta democracia já vemos um Van Zeller que apenas representa os seus associados interessados no negócio falar com voz grossa como se tivesse maior legitimidade do que o governo, como se o seu estudo se sobrepusesse às regras da democracia. Isto é, com meia dúzia de euros Van Zeller acha que comprou a decisão sobre a localização do novo aeroporto. Mas ninguém reparou, os velhos antagonistas assobiaram para o ar perante a investida do senhor dos patrões na esperança de o novo aeroporto beneficiar as autarquias que consideram ser “territórios libertados”.

Valeu-nos Cavaco Silva que ao centrar a atenção nos estudos o LNEC desvalorizou estudos técnicos encomendados por quem é parte interessada no negócio. Esperemos agora que o mesmo Cavaco Silva se recorde de quando foi primeiro-ministro e não abdicou das suas competências em favor dos gabinetes de engenharia.

Independentemente da localização espero que a democracia portuguesa não passe a ser uma questão de derivadas e integrais.