Autarca que queira ficar bem na chapa faz um discurso contra as torres, pode não dizer nada, explicar ainda menos, mas fica tão bem visto como se lutar contra a extinção do lince da Serra da Malcata ou, o que agora está a dar, do lince ibérico. Em Portugal e, em particular, em Lisboa há um complexo anti-torres, sempre que se fala do tema tememos logo que nos tirem a vista, mesmo que moremos num rés-do-chão da Rua de São Bento.
Como não podia deixar de ser, António Costa que está mais preocupado com os votos que vai ter nas próximas eleições do que com o governo da cidade fez o discurso anti-torres a propósito da zona ribeirinha e ouviu-se logo um bruá de admiração por parte dos seus admiradores, assessores e demais clientela da autarquia da capital.
Eu não sou nem contra, nem a favor das torres, sei que há cidades modernas que têm as suas zonas histórias protegidas, zonas de torres de escritórios e de habitação, excelentes espaços verdes cuidados e com segurança e zonas habitacionais onde se respira bem-estar. Em Lisboa não há nada disso, não há as malditas torres, os espaços verdes servem para levar o cão a fazer o serviço, os bairros históricos estão ao abandono, os bairros residenciais deixam muito a desejar (veja-se o desprezo a que tem sido votada a alta de Lisboa).
Pensar e governar a cidade é muito mais do fazer oratória ruralista, sugerir que todo o espaço disponível da cidade deverá servir para campos de golfe sem buracos, e transformar as tarefas da gestão corrente em grandes campanhas salvadoras, como sucedeu recentemente com a promessa de pintar meia dúzia de passadeiras antes do Natal ou de limpar algumas ruas que a própria autarquia deixou que ficassem encardidas.
Lisboa é demasiado importante para os seus cidadãos e para o país para que seja gerida com promessas de que não vão haver torres ou de criar uma região demarcada de vinho, de azeite ou de corvinas. Lisboa precisa de desenvolver-se, de criar emprego e riqueza, de gerir recursos financeiros que possibilitem a sua modernização. Para isso é importante ter uma visão ampla, ambição e uma estratégia assente no que se quer e não na mera afirmação do que não se quer só porque é isso que os eleitores querem ouvir.
Lisboa é uma cidade que está a empobrecer, que perde alguns dos seus melhores habitantes, que não tem tido capacidade para atrair e fixar empresas modernas, que não tem sido capaz de rentabilizar os seus recursos. Tem sido gerida por autarcas incompetentes, atrofiada pelas entidades gestoras de infra-estruturas de transportes, tem perdido competitividade.
Lisboa precisa de um governo e de uma visão de futuro, precisa de ser governada e não de ser gerida a pensar nos votos das próximas autárquicas, precisa de coragem na decisão e não de uma visão saloia e eleitoralista, precisa de governantes com coragem para fazer a diferença, mesmo que isso possa custar uma derrota eleitoral, Lisboa ganhou mais com os autarcas derrotados do que os que nos últimos anos recorreram ao voto fácil.