Os políticos portugueses ainda não perceberam, ou não querem perceber, as razões porque os eleitores começam a estar fartos deles, não entendem que os portugueses estão cansados de corrupção, de aproveitamento dos cargos para enriquecerem rapidamente, da existência de boys alimentados a pão-de-ló. É evidente que perceberam, mas as vitórias eleitorais e, por conseguinte, a alternância o poder é uma inevitabilidade, por maior que seja a abstenção os deputados, por piores que sejam os candidatos, serão todos eleitos.
O maior exemplo de desorientação é o PSD que parece não perceber que nem sempre os portugueses o escolhe. Num partido sem valores ideológicos, que apenas foi criado para proporcionar aos diversos grupos que o formam o acesso ao poder, não é fácil o sentimento de rejeição por parte do eleitorado. Em vez de apresentar um projecto político novo, nova gente e novas propostas, o PSD entretém-se a procurar criar uma poção mágica que o leve ao poder, mas recorrendo sempre aos mesmos “ingredientes”.
Primeiro julgaram ver nas directas a forma de escolher um líder vencedor e foi o que se viu, ganhou quem comprou mais votos e o projecto daí resultante equivale, em termos gastronómicos, a roupa velha, reapareceu o Santana Lopes, dantes foi a câmara de ar da bicicleta do PSD, agora serve de remendos para um Menezes que venceu de ar o balão da esperança dos boys desempregados do partido.
A nova poção mágica encontrada por Luís Filipe Menezes é a reorganização do PSD à semelhança de uma empresa, dica que lhe terá dado um tal Cunha que assegura que se um iogurte tivesse pernas seria capaz de o levar a presidente da república, tal é a consideração que a pobre alma tem pela inteligência dos eleitores. Vamos ter portanto um PSD que no topo tem um conselho de administração e que nas bases será o equivalente a uma cadeia de 5 a Sec.
Resta saber o que trará de novo um partido-empresa já que não se espera que daí resulte a mobilização de novos militantes de qualidade, mais honestidade no desempenho de cargos públicos. A solução encontrada não é nova, num país desorientado com a sua ineficácia parece que o modelo das empresas é a salvação para todas as instituições, até há famílias a constituírem-se como sociedades anónimas para fugirem aos impostos.
Todavia, o modelo de uma empresa será o adequado a um partido? Tenho dúvidas.
Os modelos de organização visam optimizar os níveis de eficácia em função dos seus objectivos, as unidades económicas organizam-se em empresas para maximizar os lucros, da mesma forma que as organizações militares se estruturam de forma a maximizar o seu poder de combate. Cada organização estrutura-se em função dos seus objectivos, não me parece que os votos possam ser medidos em contas de lucros e perdas.