Sendo o Orçamento de Estado o mais importante instrumento de política económica que resta depois de termos entrado para a zona Euro, importância que é ampliada pelas características da nossa economia e pelas dificuldades que têm atravessado a nossa economia, seria de esperar um debate sério. Para esse debate contribuem fundamentalmente os jornais e os políticos da oposição.
Ainda no passado Domingo Vasco Pulido Valente dava conta na sua coluna do Público que 58,9% dos portugueses não conhecem o Orçamento de Estado. É necessário ser muito optimista para acreditar nesta percentagem, é difícil distinguir entre os que respondem numa sondagem que sabem ou que julga que sabem. Aliás, estou convencido que se todos os deputados da AR fossem sujeitos a um pequeno exame para aferir os seus conhecimentos nesta matéria teríamos uma grande desilusão, duvido que o número de positivas seria superior àquela percentagem. E entre os jornalistas os saber também não parece abundar.
Os partidos não ajuda ao debate, há poucos dias houve um blogue que fez o levantamento das posições defendidas pelo PCP em relação a vários orçamentos, do PSD e do PS, e as críticas foram sempre as mesmas. Nos últimos anos houveram mesmo partidos que afirmaram votar contra quando ainda mal tinham tido tempo para ler o documento. Este ano tiveram um pouco mais de cuidado e fizeram um pequeno compasso de espera antes de avançar com a posição inevitável.
Os próprios governos também não têm sido exemplares, para além das gralhas que com alguma frequência são encontradas, a regra do passado recente foi a aprovação de orçamentos suplementares, o que significa que os orçamentos eram pouco sérios.
Se os partidos não levam a sério o debate do Orçamento de Estado, um bom exemplo disso foi a proposta do PSD de transferir verbas dos gabinetes para admitir polícias, os jornais reelam uma falta de seriedade confrangedora. É deprimente vermos os jornalistas a tratar o Orçamento de Estado com o mesmo tipo de voyeurismo com que as revistas cor-de-rosa tratam a vida do Castelo Branco. Mais do que analisar o documento, analisando as suas consequências e impacto na vida dos portugueses vasculham os números em busca de situações que produzam primeira páginas idiotas. Todos os anos lá os vemos a dizer quanto se ai gastar em estudos ou em viagens.
Não admira, portanto, que mais do que saber no que divergem o PSD e o PS em matéria orçamental os nossos jornalistas olhem para o debate entre Santana e Sócrates coo um combate entre Mike Tyson e Evander Holyfield's, a dúvida está em saber que ganha e em quantos assaltos ou se Santana vai tirar um bocado da orelha a José Sócrates.
Isto não é jornalismo económico nem sequer é jornalismo, estamos perante voyeurismo orçamental pouco sério que pouco dignifica a imprensa.