quinta-feira, outubro 22, 2009

Desgovernar

Por aquilo que se vai sabendo os partidos da oposição vão querer transformar o parlamento numa imensa RGA a partir de onde poderão governar o país como se fosse uma universidade dos anos 70. O governo vai governar segundo um programa enquanto a oposição vai usar o parlamento para governar para as sondagens.

Compreende-se que essa seja a estratégia da esquerda conservadora, já não se entende muito bem que o PSD e o CDS, até mesmo o PCP, tenham do parlamento a mesma visão do Bloco de Esquerda. Um país não se governa com medidas pontuais para satisfazer as corporações mais bem organizadas, num contexto de crise o pior que poderia suceder ao país seria ter um parlamento para desgovernar.

Um bom exemplo desta postura auto-destrutiva dos partidos da oposição é a questão da avaliação dos professores, medidas adoptadas por um governo legítimo e que Cavaco promulgou sem hesitações ou dúvidas. Aquilo que os deputados da oposição se preparam para fazer é voltar a transformar os professores na única classe profissional que progride automaticamente e não se sujeita a qualquer avaliação. Os deputados ainda vão mais longe na bandalhice do que pretendia o Mário Nogueira com a sua proposta de avaliação.

Ceder desta forma a um grupo corporativo que não hesita em pôr em causa o sistema de ensino para defesa dos seus interesses é aceitar que a democracia se verga aos interesses de um grupo, que a maioria de um grupo profissional da Função Pública tem mais legitimidade do que a maioria dos portugueses. É legítimo questionar o modelo de avaliação e defender o seu aperfeiçoamento, ceder à bandalhice a troco de votos é uma vergonha para a democracia.

E o que vão dizer aos polícias ou a todos os outros grupos que de alguma forma foram lesados por reformas do anterior governo? É evidente que não vão dizer nada, são poucos e os seus votos de pouco servem, isto é, só os professores é que têm direitos, todos os outros profissionais do Estado são gente de segunda. Se o ensino em Portugal fosse brilhante até se poderia entender, sucede que é dos sectores com piores resultados entre todos os do Estado.

A partir de agora é impossível adoptar quaisquer reformas a não ser que elas deixem intactos os interesses dos grupos corporativos, mesmo que esses interesses estejam em conflito com os do país.

É evidente que os partidos poderão invocar as suas promessas eleitorais (será que no debate do próximo OE o BE vai ser fiel ao seu programa eleitoral e propõe o fim dos benefícios fiscais na saúde e na educação?) e que o parlamento tem legitimidade para revogar, suspender ou alterar as reformas adoptadas pelo anterior governo. Mas isso também se pode dizer na próxima legislatura e na seguinte, isto é, a partir de agora em cada legislatura desmonta-se o que se desmontou na anterior.

Não sei se os professores votaram cinco vezes, uma em cada partido que prometeu rasgar as reformas, o que sei é que não foram os partidos que fizeram promessas aos professores que ganharam as eleições duvido muito que sem a crise financeira tivessem impedido a maioria absoluta. Mas fazem bem em serem coerentes, ainda que se esqueçam de perguntar aos pais se concordam ou não com as reformas que foram feitas.

Um dia destes irão realizar-se eleições legislativas e nessa ocasião tiraremos conclusões.