É neste contexto que interpreto a actuação de Cavaco Silva, desde que foi eleito que Cavaco prepara a sua reeleição, mais do que cumprir um mandato presidencial aquilo a que temos assistido é a uma estratégia pessoal que visa a auto-promoção com vista à reeleição. É por isso que as relações entre Cavaco e Sócrates têm evoluído ao ritmo das sondagens, quando Sócrates estava em alta Cavaco colou-se ás reformas, elogiou o primeiro-ministro e falou muito de cooperação estratégica. Quando as sondagens penalizaram Sócrates, Cavaco deixou de apoiar as reformas, começou a questionar as iniciativas governamentais, soltou os assessores e, por fim, apareceu Manuela Ferreira Leite.
Depois da hostilização sistemática de Sócrates por parte da equipa social-democrata de Belém Cavaco percebeu que tinha de se livrar de José Sócrates. Apostou tudo e perdeu, não só perdeu como, mal aconselhado ou fruto de perda de faculdades, fez asneiras cada vez maiores. Quando ouviu a generalidade dos comentadores falarem em renúncia, na não reeleição ou mesmo na desistência de uma recandidatura, Cavaco só podia fazer uma coisa e foi o que fez, apostou tudo.
Só que há muito que os portugueses perceberam que este Presidente não é igual aos seus antecessores, é um homem convencido de que o D. Sebastião entrou em Portugal por Boliqueime, que ainda não percebeu que desde que foi presidente os portugueses mudaram muito e uma boa parte dos actuais eleitores não o conheceram como primeiro-ministro.
Agora Cavaco conta com o apoio firme de um partido que teve 29% dos votos, um piscar de olho de um PCP que receia o BE e o apoio cínico de Paulo Portas, um dos seus piores inimigos. Não chega para ser reeleito, até porque dificilmente recuperará a sua imagem num quadro de conflito permanente com José Sócrates que, depois de ter visto a sua relação de confiança traída por golpes baixos dificilmente ajudará Cavaco.
Cavaco apostou tudo e perdeu, em vez de promover a estabilidade desencadeou a instabilidade, em vez de se solidário mandou ou permitiu que os seus homens conspirassem, em vez de servir o país ajudando-o a superar uma crise económica optou por se preocupar consigo e com o seu futuro político.
Estas legislativas foram como uma volta de aquecimento das eleições presidenciais e Cavaco Silva não só a perdeu como demonstrou que não está, nunca esteve nem nunca estará à altura do cargo de Presidente da República. Há mesmo muitos portugueses qu duvidam de que seja digno dele.