Uma das coisas que mais me impressiona nos comunistas portugueses é a incapacidade de reflectir sobre a história, em vez de se questionarem sobre as razões do absurdo a que chegaram os regimes comunistas da Europa do Leste insistem em falar de erros cometidos sem dizerem quais ou em encontrar razões fúteis para explicar a derrocada de todo um sistema que se afirmava eterno.
Compreendo a atitude dos comunistas, admitir que os seus valores ideológicos tiveram as consequências funestas que a história registou deve ser tão difícil como o será para os católicos aceitarem que Saramago ande a dizer que a Bíblia é um tratado de maldade humana. Pior ainda, da mesma forma que um euro-deputado do PSD sugeriu a Saramago que deixasse de ser português, quem ousa questionar a verdades dos nossos comunistas é promovido a anti-comunista primário.
A verdade é que a RDA, eleita pelos comunistas portugueses como modelo de progresso das sociedades comunistas ao ponto de os seus símbolos serem exibidos orgulhosamente em todas as festas do Avante, não passou de um regime absurdo, de uma ditadura que prendeu, perseguiu e matou. Caído o muro percebemos como os atletas eram brilhantes, como a economia estava à beira de um desastre, como todo um povo era perseguido por uma polícia política mais poderosa do a velha Gestapo.
Dizem os defensores da RDA que o que lá se passou também se passa ou passou nos países do Ocidente, que aí também houve perseguições políticas e que os sucessos desportivos também se conseguem com recurso ao doping. Esquecem que se seguirmos esta lógica teremos de chamar democrata a Salazar e considerar que ao pé da Stasi a nossa polícia política parecia um grupo coral.
Hoje a Europa comemora o fim do Muro de Berlim, o fim de uma ditadura que aprisionou um povo contra a sua vontade em nome dos méritos ideológicos de um regime imposto pelo ocupante. Comemora-se a liberdade como valor essencial das democracias europeias, as democracias de que todos os cidadãos europeus beneficiam e de que fazem uso até para proporem o seu fim e fazem-no em inteira liberdade. Uma democracia que até paga a euro-deputados como Ilda Figueiredo para defenderem publicamente ditaduras em países que não é o seu e cujos cidadãos rejeitaram.
Gostaria de recordar aos que por cá ainda sonham com muros com o de Berlim que Chris Gueffroy foi o último alemão assassinado ao tentar fugir da RDA. Não era nenhum perigoso dissidente ou criminoso, era um jovem de 20 anos que, muito simplesmente, não queria cumprir o serviço militar. Foi morto a tiro apesar de o governo da RDA nunca ter tido a coragem de assumir que tinha dado a ordem de atirar a matar sobre quem fugisse. Foi a última vítima de um regime cobarde como, aliás, o são todas as ditaduras.