Mas devo confessar que não esperava um tão mau desempenho no cargo, tão mau que desde há longos meses que Pinto Monteiro é o verdadeiro líder da oposição, é ele que marca a agenda política com o tira e põe processos ao mesmo tempo que os jornais são recheados com informação picante. Ainda há poucos dias quando o centro das atenções era o programa do novo governo o Ministério Público tira da manga o processo Face Oculta.
A justiça e, em particular, o Ministério Público, bateram no fundo com a liderança de Pinto Monteiro, a famosa separação de poderes deu lugar ao claro envolvimento da justiça na política portuguesa. Só que de um lado estão políticos eleitos e do outro está gente anónima que pode fazer escutas, vigilâncias, buscas e tudo o que qualquer juiz tolerante permite. Depois, muito antes de um tribunal considerar as escutas ilegais, algo que sucede sistematicamente nos julgamentos, mandam-se dicas para os jornais, como a das escutas das conversas entre Sócrates e Armando Vara.
A oposição já não tem ideias, não tem projectos, não apresenta alternativas, limita-se a esperar pelo próximo processo, pela próxima divulgação de escutas, pela audição do próximo primo de Sócrates. A tarefa de derrubar Sócrates foi entrega a agentes que sob o anonimato transformam a justiça portuguesa num espectáculo triste.
Só que mesmo com o Freeport Sócrates sobreviveu para desgosto dos manga de alpaca da justiça, mesmo com o caso Face Oculta o partido do governo sobe nas sondagens. Isso significa que os portugueses já só têm medo da justiça, cada vez mais medo pois deixaram de confiar nos seus agentes, o que é bom, a justiça que vale é a que se faz em tribunal, com provas e não com insinuações e meias verdades, com os visados a terem defeito à defesa.
A verdade é que este Ministério Público é um falhanço, é, muito provavelmente, a mais incompetente das instituições portuguesas, basta olhar a processos como o Apito Dourado para se perceber que perante bons advogados dificilmente conseguem uma condenação. Só é eficaz quando os arguidos são pilha-galinhas representados por advogados oficiosos.