Desde que Cavaco criou o tabu da sua candidatura presidencial, lançando o PSD num pântano do qual nunca se livrou, que este partido foi incapaz de se renovar atraindo novas gerações. Nestes doze anos o PSD quase não apresentou caras novas, a não ser alguns afilhados dos dirigentes, como o António Preto, ou a promoção de alguns rebentos como sucedeu recentemente com a eleição para deputado do filho de Luís Filipe Menezes.
Apesar de até ter algumas iniciáticas positiva, como a organização das universidades de Verão, o PSD tenta assaltar o poder sempre com os velhos dirigentes, lembrando o Benfica dos tempos de Mário Wilson. Uma dúzia de anos teria sido tempo suficiente para lançar uma nova geração de dirigentes, representam três legislaturas e quatro mandatos autárquicos, daria tempo para que alguém mais jovem tivesse obtido a experiência de um mandato autárquico e de duas legislaturas no parlamento, experiência suficiente para gerar uma nova geração de políticos e governantes.
Só que não é esta a lógica do PSD e do PS que acabam por ser um espelho da sociedade portuguesa, os afilhados sobrem em prejuízo dos que mais se dedicam, os interesses sobrepõem-se à competência e honestidade. Se o PSD foi incapaz de lançar uma nova geração capaz de relançar o seu projecto político, entretendo-se a propor “roupa velha” aos eleitores, o PS tem sido incapaz de usar o poder para atrair e lançar novas caras. No PS predominam os afilhados da nobreza que domina a sua liderança, os filhos das boas famílias são lançados como assessores nos gabinetes governamentais para mais tarde alguns aparecerem como secretários de Estado. Uma boa parte deles nunca desenvolveu qualquer actividade nas bases, sendo logo lançados na alta roda com o estatuto de “afilhado de…” ou “filho de…”
Isso não significa que não existe neste partidos muita gente generosa, capaz de os renovar, só que estas organizações partidárias estão organizadas em torno de castas e quem não pertence a uma casta superior o mais que pode ambicionar é uma junta de freguesia. Este modelo de promoção acaba por assentar em laços de familiaridade e de compadrio, significa que uma vez no poder ficarão divididos entre o serviço do país e a necessidade de atender aos pedidos da casta ou de retribuir favores recebidos.
Os partidos que como, agora se diz, não pertencem ao arco que em Portugal estão reduzidos às organizações comunistas e pouco mais, cultiva-se a imagem da pureza, indo de encontro a princípios ideológicos que apontam para vanguardas puras e livres das máculas do comunismo e do poder. Só que a experiência demonstra que os países comunistas foram campeões na corrupção e a dinâmica de promoção dentro dos partidos comunistas no poder não difere muito daquela a que assistimos em Portugal. Se de um lado uma boa parte dos militantes são formatados para sobreviver numa selva de favores e compadrios, do outro são formatados para serem incapazes de ver a realidade ao ponto de negarem os factos históricos com a mesma convicção com que a Igreja condenou Galileu.
A experiência das últimas eleições legislativas permitiu-me ver muita gente generosa nos diversos partidos, capaz de gerar novos projectos políticos e portadora de uma cultura política saudável e mais adequada aos novos tempos. Resta esperar que algum dia consigam vencer as castas que hoje dominam a vida política portuguesa.