Num tempo em que tantos insinuam que há fugas ao segredo de justiça, até vão mais longe ao insinuar que estas fugas têm objectivos políticos, o caso BPN tem sido exemplar, os seus segredos estão mais bem guardados do que o ouro do Banco de Portugal. Apesar de o petisco BPN valer mais de dois mil milhões de euros. Nenhum nome veio para a praça pública, nenhum pequeno negócio foi divulgado, o Oliveira e Costa foi logo preso e até já cumpriu o máximo admitido para a prisão preventiva.
Neste processo não houve julgamentos na praça pública, Dias Loureiro foi tratado como devem ser tratados todos os portugueses, o Ministério Público deu aos portugueses um bom exemplo de como os seus direitos de cidadania devem ser respeitados por uma jutiça de um Estado democrático. Ouviu-o tranquilamente, ninguém bufou o que lá se ouviu para a comunicação social, foi o próprio Dias Loureiro a falar à comunicação social e fê-lo dizendo o que havia para dizer. Nem sequer foi ouvido segunda vez porque isso de incomodar os cidadãos é coisa que não se faz, teve que lá voltar mas porque se tinha esquecido de levar uns papéis em casa. E só foi constituído arguido porque esse estatuto lhe confere mais direitos do que o de mera testemunha.
O líder sindical dos magistrados dormiu descansado com este processo, não precisou de vir para a comunicação social questionar a falta de meios apesar da sua dimensão e ninguém suspeitou de quaisquer pressões, não tendo sido necessário ir pedir ajuda ao Presidente, deixando tranquilo a exercer o seu mandato.
O próprio Presidente nunca teve de se manifestar preocupado com este processo, o buraco apareceu, os portugueses deram provas da sua tradicional generosidade e meteram lá uns milhões a bem da saúde do sistema financeiro. Até veio a público assegurar que Dias Loureiro é boa pessoa e tanto quanto se sabe nunca mais se incomodou com o assunto, a justiça segue o seu curso, os magistrados fazem o seu trabalho, tudo corre sobre rodas e não vai ser o Presidente a chamar o Procurador-Geral a Belém para meter o bedelho onde não é chamado.
Não é por causa do processo BPN que Manuela Ferreira Leite vai ter mais cabelos brancos, o comportamento do Procurador-Geral e até de José Sócrates não merecem qualquer reparo e muito menos uma intervenção esganiçada em pleno parlamento, se tudo em Portugal corresse tão bem nem haveria oposição. Tem tudo corrido tão bem, tão bem que nem o Jerónimo de Sousa precisa de exigir que tudo seja investigado a fundo e com celeridade, nem o Bloco de Esquerda que até fez um manual sobre as vigarices do banco está preocupado com o curso das investigações, a justiça será feita e todos poderemos estar tranquilos.
O processo BPN, esse sim é o exemplo da competência da nossa justiça e se eu fosse o Sócrates até aumentaria as mordomias dos magistrados, aumentava-lhes o vencimento, dava-lhes mais uma ou duas mordomias livres dos impostos e, como prova da minha gratidão, até lhes mandava construir um campo de férias à beira da praia da Messejana, porque eles merecem.