Alguns dos que me criticam não imaginam quanto me apetece mandar umas farpas, desabafar o que me vai na alma por aquilo a que estou a assistir, nem calculam como gostaria que houvessem alternativas credíveis a Sócrates dentro e fora do Partido Socialista, como estou cheio de vontade de deitar o que me vai na alma.
No dia das eleições estava a decidido a “passar-me” para a oposição pois neste país não bajular o líder já é ser oposição, atrás do primeiro-ministro segue uma imensa procissão de ministros, secretários de Estado, assessores, directores-gerais e uma infinidade de admiradores capazes de lhe lamberem o rabo e assegurarem que sabe a baunilha.
Mas quando a oposição é liderada por sacanas anónimos que durante o fascismo foram serviçais do regime e agora estão disposto a subverter a democracia para defenderem mordomias miseráveis não serei eu a ajudá-los a completar o serviço. Se Sócrates é gatuno, corrupto ou, muito simplesmente, um pilha-galinhas então provem-nos, façam-no segundo as regras e com competência porque é para isso que os contribuintes lhes pagam e, tanto quanto sei, nem sequer estão mal pagos.
Criticar as políticas de Sócrates e ajudar um partido que tem uma líder que vai ao caixote do lixo do Ministério Público para escrever os discursos que faz no parlamento? Ou para ajudar os que sonham uma sociedade tão boa que só funciona se for imposta uma ditadura idiota?
De resto, não vale a pena perder tempo a falar de coisas sérias, desde o Presidente da República aos órgãos de comunicação social, desde Jerónimo de Sousa até Manuela Ferreira Leite, todos estão preocupados em saber do que fala Sócrates com Armando Vara. E se a PJ pudesse usar os tais aparelhos sofisticados que comprou à secreta israelita quando o Sócrates está com a Fernanda Câncio na cama ainda havia algum procurador-adjunto que mandava uma certidão para o Supremo só porque o primeiro-ministro em vez de dizer ai deu-lhe para gritar pela TVI, pela Manuela Moura Guedes ou pela Freeport, sinal evidente do seu envolvimento em negócios poucos claros, matéria suficiente para investigar, para preocupar um qualquer montanheiro de Belém ou pra levar o sindicalista dos magistrados a um orgasmo precoce.
A agenda política nada tem que ver com os problemas do país, é gerida por canalhas incompetentes e cobardes e a pouca-vergonha chegou ao ponto de os líderes partidários estarem mais empenhados em saber do que fala Sócrates ao telefone do que em apreentarem alternativas credíveis. A excepção é Paulo Portas, os submarinos obrigam-no a ser inteligentes, os outros permitem-se ser mais burros do que o costume.
Entretanto em vez de discutir os problemas do país e criticaras políticas governamentais ou as escolhas que vão sendo feita, temos de andar a toque de caixa por causa de meia dúzia de pobres diabos que só por terem sido seminaristas do CEJ se julgam sacerdotes que podem ouvir todos em confissão e revelar o que ouviram, o que imaginaram ter ouvido e o que gostariam de ter ouvido, tudo isso para que os crentes mais ingénuos fiquem a pensar que ouviram o que ninguém ouviu.
Enquanto não acabar esta penitência colectiva, enquanto os magistrados e os políticos incompetentes promoverem esta mortificação colectiva digna de supernomerários da Opus Dei, não alinho e lá terei que deixar a oposição mais tarde, não me junto a gente desta.