Pela forma como alguns líderes da oposição parece que o PS e Sócrates têm uma maioria relativa e que a oposição tem a maioria absoluta. Manuela Ferreira Leite foi a primeira a defender o absurdo de que Sócrates não deveria governar com o seu programa, no que tem sido seguida neste tipo de discurso pelo PCP e pelo BE.
Ficamos com a impressão de que há um programa de um partido minoritário e um outro assumido pela oposição. Só que não é bem assim, cada um dos partidos da oposição apresentou um programa e são poucas as matérias em que registam ideias comuns, nem mesmo entre o PCP e o BE. O único ponto em que parece haver unanimidade é a questão da avaliação dos professores, mais por questões de oportunismo eleitoral do que por convicção, mas aqui a unanimidade situação no frete eleitoral da suspensão da avaliação, já quanto aos modelos de avaliação a oposição não se entende.
O facto de um partido não contar com uma maioria absoluta não significa que cada líder partidário assuma a representação de todos os eleitores que não votaram no partido do governo. Ainda anteontem ouvi Ana Drago comentar uma qualquer questão como se estivesse em representação de 63% dos votos, o que não é verdade, o BE representa menos de 10% dos eleitores, isto uma décima parte dos portugueses e pouco mais de um quarto dos eleitores que escolheram o PS.
Pessoalmente acho uma parvoíce a mania que se instalou de transformar a governação num exercício simples de mera aplicação de um programa eleitoral, parvoíce levada ao extremo de transformar um programa eleitoral em programa de governo. Isto resulta da ausência de programas alternativos apresentados pela oposição, que em vez de se opor com ideias e projectos opta por assumir um papel de auditora do programa eleitora.
Um país não é nem pode ser gerido como se tratasse de uma mercearia, como se viu nos últimos anos muita coisa pode suceder em quatro anos e governar ou avaliar a governação segundo um programa feito num tempo diferente do actual só revela tacanhez. Nos últimos quatro anos ocorreram situações que se escapam à capacidade de intervenção de qualquer governo e não faz sentido que os que exigiram a toda a hora o cumprimento de um programa eleitoral sejam os mesmos que mais exigiram respostas às crises sucessivas que se verificaram, o aumento do preço dos combustíveis, o aumento dos preços das matérias-primas agrícolas e a crise financeira internacional.
Mais importante de que ter um bom cumpridor de promessas é ter um governo que em cada momento consiga implementar um projecto sufragado pelos eleitores e que seja capaz de responder aos desafios externos que possam surgir.