sábado, abril 14, 2018

O MULTIPLICADOR DO FEIJÃO

Há uns tempos vi Francisco Louçã explicar aos portugueses as vantagens de aumentar os rendimentos mais pobres, falando como para crianças de quatro anos o trotskista que graças a António Costa chegou a conselheiro do banco de Portugal, explicava o funcionamento do multiplicador de Keynes, dizia que aumentando os rendimentos dos mais pobres, este iriam consumir produtos de primeira necessidade e isso aumentaria a produção.

Achei alguma graça ver um trotskista empedernido convertido às ideias e ideologia de John Maynard Keynes, como se o economista britânico tivesse sido um dos pilares ideológicos das correntes trotskistas. Não deixa de ser ridículo ver os mais extremistas, ainda que metam o comunismo na gaveta, a defender um dos princípios da chamada “economia burguesa” que mais marcou o capitalismo do século XX.

Esta ideia de que mal ganham mais uns tostões os pobres vão a correr para a mercearia mais próxima comprar pacotes de feijão, é um estereotipo muito querido aos ideólogos do comunismo nascido nas melhores família das burguesias citadinas. Louçã e outros estão no tempo da revolução industrial e ainda imaginam hordas de operários esfomeados. Numa economia aberta e com os padrões atuais de consumo é bem mais provável que em vez de um multiplicador de feijões o multiplicador de Keynes seja um multiplicador de iPhones e de Samsungs. Desde o aparecimento do famoso Toyota Corola, dos tempos em que se dizia que veio para ficar, que os pobres são um pouco diferentes daqueles que andam na imaginação do líder trotskista.

A ideia de que grandes défices são sinais de políticas progressivas e que uma bancarrota conseguida graças a investimento e aumentos salariais é um passo no sentido do céu, partindo-se no pressuposto que depois se reestrutura a dívida, deixa-se de pagar o que se deve, mete-se a dívida soberana a zeros e volta-se ao mesmo é uma quimera de líderes irresponsáveis que nem sabem o que é sem pobre, nem fazem a mais pequena ideia do que as crises custam aos mais pobres e à classe média.

È graças a estes ideólogos do multiplicador de feijão que a direita tem a oportunidade de promover retrocessos sociais de décadas, graças a sucessivas crises financeiras que destroem muito do pouco que se consegue destruir. Catarina Martins, Louçã e outros ainda não perceberam que o povo português está farto de crises, para além de ser uma mentira que grandes défices melhoram os rendimentos dos menos ricos. O que melhora o rendimento de todos é criar mais riqueza e distribuí-la de forma justa e equitativa.