segunda-feira, abril 30, 2018

PARLAMENTO SUBSTITUI O CM

A decisão de Rui Rio de chamar Manuel Pinho a prestar esclarecimentos no parlamento coloca o debate de casos judiciais alimentado por fugas a partir da justiça num novo patamar. Até aqui o trabalho era feito pelo CM ou pela TVI24, agora são os partidos que encontram nos casos judiciais material para debate político, principalmente se a realidade não trouxer vantagens eleitorais.

Compreende-se o objetivo de Rui Rio, que nesta matéria ultrapassou uma fronteira que Passos Coelho respeitou, perante os sucessivos falhanços e sem grandes argumentos para se evidenciar no debate político, lê os jornais em busca de argumentos e não resiste à tentação de tirar proveito de casos judiciais que as violações do sigilo fiscal.

Rio está convencido de que tirará algum proveito dos sentimentos de indignação provocados por tudo o que se possa dizer de um ministro que nunca mereceu grande simpatia. Mas também é um fato que este governo não é uma emanação do governo de Sócrates, de quem Costa se afastou muito cedo. 

O que está em causa é o princípio, a partir de agora sempre que um magistrado mais espertalhão quiser que um caso que investiga seja alvo de peixeirada política, porque isso o ajuda a atirar a opinião pública contra um arguido, basta mandar umas informações para os jornais.  Neste caso até há um pormenor curioso, quando um juiz de instrução não autorizou buscas na casa de Manuel Pinho os investigadores recorreram à imensidão de informação fiscal e financeiras acumulada com o Caso Marquês e encontrou informação que rapidamente foi parar à comunicação social.

A curto prazo a estratégia pode parecer esperta, mas é mais um passo no sentido do lodaçal e não tardará a que outros políticos vejam notícias na comunicação social que apenas visam levá-los a um parlamento que gosta de transformar tudo em debate político.