segunda-feira, março 29, 2010

O país bloquista

Mais do que o sucesso eleitoral o sucesso da cooperativa da extrema-esquerda disfarçada de esquerda moderna foi a influência que teve no discurso político com as mais insuspeitas personalidades a adoptar os raciocínios mais primários para todas as situações. A desorientação colectiva leva a que a esquerda se esqueça dos valores e que a direita quase defenda que os gestores não possam ganhar mais do que o salário mínimo.

Nem mesmo o circunspecto presidente da Assembleia da República conseguiu resistir ao pensamento bloquista, quando alguns deputados questionaram a devassa dos seus computadores pelas câmaras fotográficas dos jornalistas Jaime Gama invocou o facto de os computadores terem sido comprados com dinheiros públicos para que o deputados não tenham direito à privacidade. Segundo este raciocínio tão infantil quanto bloquista a partir de agora todos os portugueses poderiam aceder a tudo o que conste num computador do Estado.

Outra manifestação recente desta cultura bloquista foi a recente proposta de alguns deputados do PS de colocar na internet a situação fiscal de todos os portugueses, como se com esta devassa fosse possível identificar os responsáveis por todos os nossos males. Esta proposta, como todas as propostas bloquistas, tem subjacente a ideia de que Portugal não tem problemas e só não se desenvolve porque andam por aí uns malandros.

Também na justiça se tenta superar as suas incapacidades e incompetências com propostas bloquistas que procuram condenar com base não na prova do crime mas na suposta existência do crime, aliás, o caso Freeport evidencia bem essa hipótese, como o processo foi aprovado em prazos razoáveis tudo leva a crer que houve corrupção. Um bom exemplo destas medidas foi a aprovação pelo PSD (quem diria?) e pelo BE da perseguição às fortunas, quem for rico é suspeito de ser corrupto e se não provar a origem do dinheiro é condenado por corrupção. Perante a incompetência na produção da prova opta-se por inverter o ónus da prova. No mesmo sentido vai a proposta de criminalização da recepção de toda e qualquer prenda proposta por deputados do PS, compreende-se a proibição e a condenação pela infracção disciplinar, mas a condenação por corrupção é, no mínimo ridícula.

Basta ler os jornais destes dias para assistirmos à mais uma vaga desta cultura bloquistas com os jornalistas de jornais falidos a darem asas à sua inveja divulgando ordenados e prémios de gestores de grandes empresas, lembrando os jovens chineses dos tempos da grande revolução cultural. Em tempos os chineses decidiram eleger as grandes pestes e quase acabaram com as aves, acusadas de comerem as colheitas, nos anos seguintes morreram milhões à fome porque os insectos, livres das aves, comeram as colheitas. Daqui a uns tempos, os mesmos jornalistas que agora denunciam os vencimentos dos gestores vão fazer primeiras páginas divulgando a fuga de gestores e os prejuízos das empresas que ficaram sem eles.

O país tem problemas graves, a falta de qualificação de mão-de-obra, o défice eterno das contas públicas, a dívida pública, o desequilíbrio comercial com o exterior, o excedente estrutural de mão de obra que gera desemprego, nenhum destes problemas se resolve com as soluções bloquistas, mesmo que perfumadas pela procuradora-geral campeã do combate à corrupção ou do administrador do BEI pago a peso de ouro.

Em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão, a cultura bloquista não é mais do que promover este ambiente de desavença e desconfiança colectiva em vez de explicar aos portugueses que os problemas se resolvem com solução e não com idiotices.