segunda-feira, setembro 17, 2012

Estava escrito nos papers deles


Os que acham que o país está a ser reformatado porque tal é exigido pela troika desenganem, o que está a suceder em Portugal não estava previsto no memorando, na imaginação de Passos Coelho ou no programa eleitoral dos partidos que estão no governo, a revolução neo-fascista a que estamos a assistir estava nos papers de alguns economistas. Nunca declaração já esquecida por muita gente Vítor Gaspar disse que a este programa está subjacente uma ideologia, só não disse qual e que era a sua.
   
Aquilo a que o país está a ser sujeito é a muito mais do que a um ajustamento ou a um programa de austeridade como exigido pela senhora Merkel, esse era o PEC IV que a direita boicotou com a ajuda de Cavaco Silva para poder derrubar o governo anterior. O país está a ser reformatado segundo um programa que decorrer mais de uma ideologia do que dos manuais de política económica.
   
Se Vítor Gaspar estivesse preocupado com o ajustamento não lançava um programa económico assente em previsões falsificadas, evitaria que as receitas fiscais caíssem brutalmente, tudo faria para evitar o aumento exponencial do desemprego, procuraria que se cumprisse a meta do défice. A própria fraude com a TSU vai contra os objectivos do ajustamento, cria desemprego, contrai o consumo e aumenta a recessão, traduz-se numa descida das receitas fiscais pela contracção do consumo e pela redução da colecta para efeitos de IRS.
   
Vítor Gaspar está pouco incomodado com a ruína do país, para quem quer impor uma reformatação do país em quatro anos a coberto de uma crise financeira quanto mais se agravar esta crise melhor. Vítor Gaspar ainda não conseguiu tudo o que os ultra defendem, falta o despedimento em massa de funcionários públicos, a total liberalização dos despedimentos, a destruição da Segurança Social, a privatização de uma boa parte da Saúde e do Ensino.
   
Como os portugueses nunca aceitarão estas transformações se apresentadas em eleições é necessário lançar o país na ruína para forçar os portugueses a aceitar este Estado Novo, para que seja um facto consumado antes das próximas eleições legislativas, para que o militares fiquem assustados nos quartéis, para que o Presidente se cale, para que o Tribunal Constitucional se demita da sua função.
   
Passos Coelho começou por pedir desculpa por aprovar uma pequena dose de austeridade, depois recusou mais austeridade, aproveitou a janela oferecida pelo memorando para levar o seu liberalismo mais longe nas privatizações e começou a ser mais troikista do que a troika, depois de levar Vítor Gaspar para o governo passou a defender o custe o que custar. O governo deixou de ser liberal para começar a defender uma pinochetada económica.
   
Os resultados estão à vista a escassa riqueza dos pobres é-lhes retirada para ser entregue aos ricos, os bancos são financiados pelos contribuintes e dispensados de pagar juros, a Associação Portuguesa de Bancos legisla no domínio do crédito. A revolução deste novo Estado Novo é tão rápida que até os empresários mais conservadores a rejeitam, parece que o governo defende o regresso da escravatura e quer forçar as empresas a aceitá-lo. Nada disto está escrito no memorando, estava escrito nos papers desta seita de Mengeles da economia.