quinta-feira, setembro 06, 2012

Troika à rasca


Há poucos dias o representante da Comissão Europeia na troika disse aos sindicalistas com quem estava reunido que a responsabilidade do programa do governo era deste e não da troika, hoje vem Durão Barroso dizer que os países sob programa não podem desmantelar estado social. Estamos perante um caso de mentira governamental ou de cobardia institucional por parte da troika, o governo tem usado a troika para impor ao país uma agenda política que não foi a votos nem foi imposta por esta ou os técnicos da troika estão a fugir às responsabilidades agora que perceberam o que fizeram ao país?
   
É evidente que o país tem sido um caso doentio de subserviência, os modestos técnicos da troika, funcionários de segunda linha de organizações internacionais a que Portugal pertence como membro de pleno direito têm-se passeado pelo país como se fossem donos disto, são recebidos pelo primeiro-ministro e pela presidente do parlamento como se fossem presidentes do EUA, são tratados protocolarmente muito acima de quem são e do que merecem. Não traduzem nada para português apesar dos milhões de comissões que o Estado português paga e nas suas páginas oficiais nada consta sobre as actualizações do memorando ou sobre a sua origem.
   
Aquilo a que temos assistido quando os três idiotas por cá aparecem é ofensivo para o país e se os governantes portugueses ainda não perceberam a diferença entre defender a soberania de um país e comportar-se como donos da tasca da coxa pelo menos os presidentes do BCE, da Comissão Europeia e do FMI já deviam ter explicado aos seus funcionarecos que não vieram a Portugal como se fossem administrativas inglesas em busca de sexo fácil com o Zezé Camarinha.
   
Estes senhores deram cobertura a um programa económico que não constavam nem em qualquer programa eleitoral, nem no memorando, aceitaram alterações do memorando sem qualquer negociação com todas as partes que assinaram o memorando, dispuseram-se a participar em manobras de propaganda político-partidária onde não se cansaram de elogiar o governo e os pretensos resultados do ajustamento brutal. Agora dizem que a responsabilidade exclusiva é do governo português?
   
Não deve ser fácil para os rapazolas da troika terem percebido que o negócio da EDP nada teve que ver com qualquer ajustamento e devem ter-se sentido gozados quando viram o Catroga a ganhar muito mais do que eles. Deve ter sido frustrantes terem percebido que no país ainda existiam instituições que não se submetiam aos ditames de um ministro das Finanças sem currículo e que se tem vindo a revelar incompetente, as coisas estavam a correr tão bem na experiência portuguesa que a existência de um Tribunal Constitucional os deixou surpreendidos. Que gente rasca da direita fascista portuguesa tenha ficado desiludida porque o TC ousou funcionar ainda se entende, mas que técnicos de organizações internacionais não tivessem reagido com educação cívica é inaceitável. Como explicam os representantes da troika que na ronda de reuniões nunca questionem como vão ser compensados os mais de dois mil milhões de perdas em receitas fiscais mas exijam sempre aos interlocutores que sugiram medidas para compensar a decisão do TC de repor os subsídios das vítimas do Gaspar?
   
Começa a ser evidente que estes senhores que têm representado a troika em Portugal são gente com pouca educação, com uma educação cívica muito deficiente e pela forma deslumbrada como circulam nos palácios até parece que nem deverão saber estar à mesa. Começa a ser tempo de os responsáveis das organizações internacionais assumirem a incompetência dos seus representantes em Portugal e promover a sua substituição por gente bem formada, educada, com uma sólida formação cívica e com conhecimentos adequados de política económica.