quarta-feira, julho 09, 2014

Economistas, ciclistas e outros artistas

Quando confrontado com o óbvio o vice do PSD Marco António substituiu-se à família Espírito Santo (quem sabe se numa família com tradição de abandono na Roda o pequeno Marco António não foi já adoptado?) para justificar a escolha de gestores do BES com os seus currículos. A verdade é que se em vez de ter adoptado pela carreira de gestor tivesse ido para o ciclismo o novo chairman do BES conseguiria, ainda que com alguma dificuldade, um lugarzinho no carro vassoura. 
  
Os ciclistas tal como todos os outros desportistas estão tramados, têm de mostrar o seu valor em prova, ao contrário do que sucede com os nossos gestores. Se o currículo de muitos dos nossos gestores fosse transformado em currículo desportivo não era difícil de ver o nosso Vítor Bento a garantir várias presenças nos primeiros dez da Volta à França. Quando lemos o currículo das nossas personalidades é uma imensa lista de feitos intelectuais.
  
Há por aí quem acabe de dar um traque e puxe logo do tablet para acrescentar mais um item ao currículo. Se perdermos tempo a ler currículos vamos encontrar dezenas de artigos, livros, reuniões, seminários e mais uma extensa lista de realizações intelectuais. Em tempos conheci uma técnica do ministério de Agricultura a quem dei algumas explicações que mais tarde teve um percurso destacado na política e que a determinada altura escreveu um livro sobre a Política Agrícola Comum, era uma coisa muito complexa, a recolha de meia dúzia de acórdãos do Tribunal de Justiça Europeu.
  
Se alguém quiser estudar as causas do nosso subdesenvolvimento pode começar por avaliar a preparação dos nossos gestores, sugiro mesmo que comecem por analisar os currículos dos nossos administradores da banca. Avaliem os artigos que escreveram, consultem os programas dos cursos que dizem ter, leiam os livros que escreveram, até sugiro que comecem pelo presidente do BPI, já que sobre o novo chairman do BES bastou-nos o esclarecimento do Marco António.
  
Num país onde o maior problema está em saber se o miserável ordenado mínimo deve estar ou não associado à produtividade muitas das nossas empresas são geridas por gente que devia regressar às escolas. Na maior parte dos casos a fundamentação das suas aptidões não passam de fraudes que não sobreviveriam ao exame mais elementar. Muito dos currículos dos nossos gestores estão ao nível da licenciatura do Miguel Relvas.

Estes nossos doutores da mula russa que gerem uma boa parte da economia portuguesa lembram-me a antiga nobreza, debaixo das vestes luxuosas, das jóias e das perucas viviam verdadeiras colónicas de piolhos e de pulgas.