sexta-feira, junho 15, 2018

POBREZA ECONÓMICA E POBREZA POLÍTICA

A notícia do dia é o relatório da OCDE que conclui o que todos sabemos, quem em Portugal quem nasce pobre morre pobre e que uma das causas desta situação se situa no ensino, onde quem não tem estudos tende a reproduzir essa situação aos filhos. Também é tema de discussão neste dia, aliás, como uma boa parte dos dias de todos os anos, a situação dos professores, mais uma vez o encerramento do ano escolar e o Jerónimo de Sousa, o verdadeiro ministro vitalício da Educação, já avisou que o próximo ano letivo também começará aos trambolhões se não obedecerem ás suas instruções.

A questão dos professores é um problema que o país tem de resolver, há demasiadas injustiças, incoerências e mesmos vícios, é necessário repensar todas as regras de jogo. Mas como os sindicatos costumam associar a qualidade da escolha pública ao nível de felicidade laboral dos professores, é estranho que o relatório da OCDE seja ignorado neste debate.

Porque é que o BE e o PCP ignoraram este relatório, logo estes partidos que consideram ser os representantes dos pobres e os únicos que se preocupam com os pobres? Teria sido uma oportunidade para confrontar o ministro com esta realidade, Jerónimo de Sousa poderia ter pedido ao Mário Nogueira informação sobre o que seu sindicato, que se julga representante grande defensor da escola pública, sobre o que se tem feito para que o trabalho dos professores contribua para quebrar esta corrente que prende os pobres à sua miséria.

Sem os professores e as escolas será impossível quebrar este círculo vicioso da pobreza, é deles que depende muito a possibilidade de muitas crianças com talento mas pobres não serem esquecidas e condenadas a mais uma geração de miséria. Em todos estes anos de debate da escola pública não me recordo de ver este problema, um dos maiores do país ser discutido. Fala-se muito da qualidade da escola pública, mas sempre na perspetiva dos interesses dos professores, horários de trabalho, ordenados, avaliações e carreiras.

Não será tempo de discutir o problema da escola pública na perspetiva do combate á pobreza e do desenvolvimento? Porque será que os que se arrogam do estatuto de representantes dos pobres parece serem os primeiros a esquecerem-se deles e a transformarem-se em partidos da classe média? É óbvio que lutar pelos professores dá mais votos do que lutar pelo fim da pobreza em Rabo de Peixe. Enfim, tenho uma grande admiração por estes líderes dos proletários como o Mário Nogueira, a Catarina Martins ou o Jerónimo de Sousa. Até parece que uma das causas da pobreza económica é a pobreza política.