Não vou discutir a importância dos verde-eufémios, quando ocorrer outra intervenção contra o Satan dos transgénicos ou um qualquer um outro bastardo do capitalismo aparecerá uma nova organização a prestar homenagem a outro mártir. O tema que me parece interessante é o modelo de organização destes "verdes", designadamente quais as relações que terão com o BE (UDP+LCI).
Faz tanto sentido questionar a relação entre Louçã e os verde-eufémios como pensar que o Bin Laden consegue gerir células de Londres ou de Madrid a partir dos buracos das montanhas de Tora Bora.
Não vou apelidar estes eufémios da extrema-esquerda de terroristas ou mesmo de terroristas estagiários, o seu comportamento enquadra-se mais na categoria de idiota do que de terroristas ou de eco-terroristas. Mas as semelhanças no modelo de organização dos grupos de extrema-esquerda e da Al Qaeda são mais do que muitas.
Louçã teve toda a razão em questionar Sócrates sobre a insinuação de que estava por detrás desta acção, feita pelo ministro da Agricultura. Se fosse uma organização do PCP ou de qualquer outro partido esse vínculo seria evidente, no PCP ninguém ousaria lançar este tipo de iniciativa sem que a estratégia estivesse claramente definida pelo partido e acção aprovada pela competente estrutura do partido. É aqui que as organizações da extrema-esquerda diferem do PCP, este partido tem uma estrutura semelhante à do Vaticano enquanto na extrema esquerda o modelo adoptado é o dos muçulmanos, não existe uma hierarquia, as células multiplicam-se espontaneamente apenas com base nos princípios, não existe necessariamente laços entre elas e alguns clérigos assumem a função de inspiradores ou prestam apoio moral.
Os clérigos do BE actuam de forma idêntica aos dos grupos muçulmanos e a intervenção de Miguel Portas foi um bom exemplo disso. Portas não teve nada a ver com a manifestação mas do alto do seu estatuto achou que deveria demonstrar que a acção dos verde-eufémios estava justificada ideologicamente, que tinha a bênção divina. No seu Corão havia justificação para todo o comportamento daqueles crentes, havia um Satan , a Monsanto e havia um infiel, o agricultor de Silves. Portanto, a propriedade privada nunca poderia servir de argumento contra uma determinação divina.
A extrema-esquerda de hoje tem o bom senso de não nos querer impingir a ditadura do proletariado, de nos tentar convencer que Estaline foi um modelo de virtudes ou de orar em memória de Enver Hoxa e do paraíso terrestre que foi a Albânia. A extrema-esquerda agora é moderna, veste camisas Façonnable, trata do corpo no Holms Place, come na Bica do Sapato e deixou de usar uma caixa de ferramentas como símbolo para passar a exibir uma estrela que até poderia ser usada numa marca de perfumes. As suas preocupações já não são saber se o PCP é social-fascista ou apenas revisionista. A extrema-esquerda agora preocupa-se com a nossa saúde, quer proteger-nos das dioxinas da co-inicineração ou das malformações desconhecidas que poderão resultar do consumo de transgénicos.
Se for necessário correm riscos pela nossas saúde, foi isso que vimos em Silves, jovens que não tiveram medo de serem transformados em lobisomens pelo pólen do milho transgénicos, para que o cidadão comum fosse alertado para o perigo por que está a passar.