quinta-feira, agosto 30, 2007

A Somague e a Lei de Gresham


Quando Durão Barroso chegou à liderança do PSD os cofres do partido tinham meia dúzia de contos e se isso não bastasse o anterior secretário-geral decidiu aumentar o vencimento das secretárias pouco antes de abandonar o cargo. Quando Marcelo abandonou o PSD terá feito o mesmo que os dirigentes dos clubes de futebol, retirou o dinheiro que tinha “investido”.

Pouco tempo depois foram convocadas eleições legislativas antecipadas e o PSD lançou uma imensa campanha publicitária enchendo o país com outdoors de excelente qualidade. O PSD de Durão Barroso evidenciou uma saúde financeira invejável. Que se saiba Durão Barroso não é rico e quando chegou ao cargo até estava “desempregado”, portanto, o dinheiro terá vindo de algum lado o que não implica necessariamente que tenha origem menos própria.



Agora que poderíamos perceber melhor o que se passou chegamos a uma situação caricata, o presidente do partido não sabia e remete as responsabilidades para os então secretário-geral ou secretário-geral adjunto. O secretário-geral protegeu Durão assumindo a responsabilidade política mas assegura que não sabia de nada. O secretário-geral adjunto que seria os responsáveis pelos dinheiros e que mais tarde fez um pequeno favor à Somague estará doente e é Pacheco Pereira que certifica a sua honestidade. Entretanto o PSD vive o seu primeiro momento de unidade desde há muitos meses, todos os candidatos e os que não quiseram ser candidatos estão unidos nos elogios aos inocentes de serviço e na tentativa de esconder os culpados.

Para o Procurador-Geral este é o lado para que dorme melhor, receber dinheiro não era crime e pelos vistos nem será suspeita de corrupção que justifique uma investigação às contas e um cruzamento dos dados relativos a estas gorjetas com as decisões governamentais.

Nos partidos o silêncio é total, aquela que seria uma excelente oportunidade para deixar o PSD em dificuldades está-se a perder como se houvesse um pacto de silêncio em torno do financiamento ilegal dos partidos, o que se come em casa não se diz na rua. O único que se pronunciou foi Louçã, mas até pareceu que foi para cumprir a sua obrigação.


O Presidente da República também deve achar que o financiamento ilegal de um partido do poder não merece a mais pequena intervenção, longe vão os tempos em que enunciou a Lei de Gresham que estabelece que “a má moeda tende a expulsar do mercado a boa moeda”. Neste caso a lei poderia ser enunciada da seguinte forma: “os políticos financiados de forma ilegal tendem a derrotar os políticos honestos”. Mas parece que na economia da política os financiamentos ilegais e duvidosos não fazem parte das equações desta lei.

É mais do que evidente que se trata de um assunto para esquecer, há coisas que têm o inconveniente de começarem a cheirar mal quando alguém se lembra de mexer nelas.