Ainda mal refeito do regresso da temporada de banhos e da inevitabilidade de ter que recomeçar o trabalho, tarefa a que sucessivos governos conseguiram retirar todo e qualquer prazer, fiquei a saber que o ministro das Finanças já me leu a sina, como para o ano não há quaisquer aumentos o meu rendimento anual acabou de levar uma talhada de quase 3% a que devo acrescentar os aumentos de impostos, designadamente, os que incidem sobre os combustíveis.
O curioso é que o senhor ministro está optimista, até promete que vai ser criado mais emprego e a economia vai melhorar. Pois é, mas como eu sou funcionário público as o optimismo do senhor ministro é-me tão indiferente como deve ser para os chineses, há quase uma década que os funcionários públicos estão à margem da economia.
Resta-me fazer o que tenho vindo a fazer com os aumentos dos preços, poupar. Como vou poupar estando em causa o vencimento? Eu explico, talvez o senhor ministro perceba, o homem até letrado em coisas da economia ainda que de vez em quando não pareça.
Quando o preço do combustível aumenta ando menos, conduzo de forma menos agressiva ou ando mais devagar. Foi o que fiz nas viagens destas féria e até fiquei a pensar que eu era o único português a pagar os combustíveis, qualquer meia leca ultrapassavam os meus 160 cavalos. Descobri que o potencial de poupança era superior ao aumento dos preços e até deu para me entreter a contar os carros que me ultrapassavam, gente que corria desesperadamente para o Algarve, talvez com receio de que Cavaco Silva interditasse a região enquanto andava a passear os burrinhos pela areia.
Com o emprego faço o mesmo, há muito que divido o vencimento pelas horas de trabalho e sou eu que decido quanto vale uma hora de trabalho. Se o ministro me corta o vencimento em 3% eu dou-lhe o troco na mesma moeda, reduzo a intensidade de trabalho na mesma proporção, se ele me recusa o prémio eu acato a decisão e trabalho com a descontracção de quem se está borrifando para prémios.
Já lá foi o tempo em que trabalhava horas e horas em casa, às vezes os fins-de-semana inteiros, quando Ferreira Leite passou a mensagem de que os funcionários públicos são uns malandros decidi nunca mais trabalhar uma hora para além do horário de trabalho, as 17h30 passaram a ser mais sagradas do que o chá das cinco para os ingleses, quase merecia um prémio pelo rigor com que cumpro o horário, algo que a CP anda a tentar há décadas sem o conseguir.
Outro exemplo, desde que o ministro espanhol da indústria decidiu andar sem gravata para poupar energia que vestir de forma informal se está a generalizar. Cá por mim há muito que o faço, ainda antes da crise do petróleo e sem grandes preocupações com o CO2. Quando os nossos políticos muito inteligentes começaram a dizer que os funcionários são uns malandros entendi que o desempenho de funções tão desvalorizadas não justifica o investimento em gravatas de seda, agora só em casamentos e baptizados.
São assim as minhas contas, o senhor ministro decide quanto ganho e eu faço os acertos determino a quantidade e a qualidade do trabalho que dou em troca. Se fizer bem as contas, nos últimos dez anos tive aumentos substanciais ainda que isso não se reflicta no rendimento bruto.
É algo que o ministro das Finanças ainda não percebeu, ele faz os disparates e eu albardo o burro à vontade do dono. Pelos vistos o Prof. Teixeira dos Santos desconhece esta regra elementar da economia.