Em Portugal há portugueses que ganham menos do que muitas famílias que recebem o rendimento mínimo, vivem em casas bem piores do que aquelas a que alguns designam por guetos e nunca lhes passou pela cabeça que o Estado lhes poderia dar dinheiro. Estou a referir-me a muita gente que insistem em viver nas nossas aldeias, cuja actividade é fundamental para assegurar o que resta do equilíbrio ecológico deste país e conseguem manter viva uma agricultura que os nossos ministros desconhecem.
Ou seja, o Estado subsidia muita gente que não quer trabalhar e esquece aqueles que desempenham trabalhos essenciais ao país, mas que há muito que não proporcionam o rendimentos que lhes proporcionem um mínimo de dignidade. Seria interessante fazer as contas e comparar quanto investe o Estado numa família urbana que depende de subsídios e de habitação do Estado com uma das muitas famílias das nossas aldeias.
O dualismo económico sempre foi uma realidade da nossa economia e apesar de ter deixado de constar da agenda dos nossos políticos, tem vindo a agravar-se. O aprofundar da globalização e uma política agrícola desenhada a partir dos mercados mais competitivos condenou uma boa parte do nosso meio rural à marginalização. A título de exemplo, quanto investiu o Estado na população que insiste em viver na serra do Caldeirão? Estamos a falar de vários concelho, de populações fundamentais para que uma parte do Algarve não se transforme em deserto.
Trata-se de gente que não recorre a subsídios de desemprego quando não há trabalho agrícola para fazer, que não beneficia dos investimentos em auto-estradas ou TGV, que não têm acesso aos modernos hospitais inaugurados a pensar nos calendários eleitorais, que não beneficiam de bairros sociais e de outras benesses feitas a pensar no voto urbano. Morre-se de uma coisa e os filhos têm de andar muitos quilómetros de “camioneta” para irem à escola primária.
Não recebem quase nada ou mesmo do Estado mas asseguram um dos raros bens deste país, o ambiente. Plantam ou asseguram a manutenção das florestas que permitem às nossas grandes indústrias negociar quotas de CO2, vivem em parques ecológicos que respeitam apesar de terem que respeitar metas que lhes tornam a vida num inferno. Produzem riqueza invisível, acabando por receber os magros rendimentos de uma agricultura pouco produtiva e desprezada pelos sucessivos ministros da Agricultura. E como se tudo isso não bastasse ainda vem a ASAE dizer-lhes que devem obedecer aos mais elevados padrões tecnológicos que se quiserem produzir dois presuntos, meia dúzia de queijos ou uns garrafões de azeite. Dão muito e nada recebem.
Talvez seja tempo de assegurar que estas populações recebam do Estado o que merecem, que até nem seriam subsídios já que corresponderiam ao que produzem em termos ambientais mas que não tem valor de mercado. E nem estamos a falar de subsídios, se as grandes empresas podem comprar e vender quotas de CO2 faz todo o sentido remunerar os que permitem a existência dessas quotas, que asseguram o equilíbrio ecológico do país e garantem a sobrevivência dos parques ambientais de que tanto se fala nas grandes cidades.