Umas das primeiras mudanças em Belém após a chegada de Cavaco Silva à Presidência da República foi a renovação do site, mais arejado, prometia uma nova forma de comunicar, algo que nos podia fazer pensar que Cavaco Silva tinha mudado muito. Engano, o site não passou de mera propaganda, estando mais ao serviço da imagem pessoal de Cavaco Silva do que da Presidência, e a forma de Belém comunicar com os cidadãos tem-se revelado pouco própria para a Presidência da República de um Estado democrático.
O ponto mais baixo desta forma de estar na política de Cavaco Silva, assessores e outros funcionários da Presidência foi a famosa comunicação do Presidente da República feita no final do mês de Julho. O país ficou a saber que Cavaco ia falar com ar sério graças a uma dica de um assessor anónimo a um único jornal, o Público de Belmiro de Azevedo que se tem destacado como oposição tal como Pacheco Pereira afirmou. Como se isso não bastasse o zeloso e anónimo assessor tentou parar o país dizendo que se Cavaco ia falar numa altura em que era suposto andar com os burrinhos na areia, é porque ia dizer algo de importante. Foi o que se viu, nem disse nada de importante nem de novo pois Manuela Ferreira Leite, numa recente visita aos Açores, havia anunciado o conflito institucional.
Aliás, não foi a primeira vez que o país ficou a saber o que Cavaco Silva pensava através de intervenções de Manuela Ferreira Leite, poucos dias antes a líder do PSD, numa das suas raras aparições, exigiu em público o que Cavaco tinha pedido em privado ao governo, as contas das obras públicas. Como se não bastassem os assessores anónimos e as dicas a Ferreira Leite, Cavaco Silva ainda estabelece comunicação com os cidadãos recorrendo às famosas “fontes” de Belém.
A comunicação entre Cavaco e os cidadãos é tudo menos transparente, chegando a ser mais própria de uma seita do que de uma presidência. Não é aceitável, por exemplo, que uma comunicação oficial seja divulgada por um assessor anónimo a um único jornal, assim como é uma violação grotesca das regras da democracia permitir que a líder do partido da oposição use informação da presidência para manter a sua agenda política.
Ficamos sem saber de onde vai surgir a próxima posição política de Cavaco Silva, se vai ter a forma de dica de um assessor a um jornal, se vai sair da boca de Manuela Ferreira Leite na próxima entrevista, se será objecto de uma rara divulgação oficial ou se é é uma fonte anónima, que até poderá ser a senhor que lhe limpa o gabinete, a dar a boa nova ao país.