O grupo de operárias despedidas pela têxtil Meneses & Pacheco Lda que nas últimas semanas montou vigília à porta da fábrica de Vila Verde, em Braga, para evitar a saída das máquinas que garantiam o pagamento das indemnizações, diz-se enganado pelos sindicalistas.
O Sindicato Têxtil do Minho e de Trás-os-Montes (STM), filiado na CGTP, disse-lhes que uma acção judicial tinha avançado, mas três semanas depois do início da vigília, que era feita em dois turnos, 24 horas sobre 24 horas, as duas dezenas de operárias descobriram que nada dera ainda entrada em tribunal.
Em simultâneo, Franclim Ferreira, um advogado estranho ao sindicato informou-se que uma simples providência cautelar de arresto teria feito com que fossem para casa em dois ou três dias.
«Há mulheres com filhos pequeno que estiveram aqui semanas sem condições nenhumas. Isto é uma vergonha. Sentimo-nos enganadas. Penso que daria jeito ao sindicato que a gente estivesse ali». Disse ao Sol Rosa Gomes.
A providência cautelar acabaria por ser interposta por Franclim Ferreira, depois de uma reunião com o Ministério Público que corroborou o acerto da estratégia jurídica – que o sindicato contesta. E esta terça-feira, as mulheres puderam regressar a casa. Mas estão revoltados com o sindicato.
Desde dia 11 de Julho que as bandeiras da CGTP e panos negros marcavam a presença sindical nos portões da fábrica. As televisões fizeram reportagem, e as trabalhadoras prepararam-se para «30 na 90 dias» de vigília, o tempo que levaria a ser julgada uma acção judicial de insolvência. Só assim poderiam garantir que o empresário, alvo de uma penhora do fisco, não retirasse as máquinas, para as olocar noutra fábrica, informara o sindicato.
Duas semanas depois, o líder do PND, Manuel Monteiro, visitou a fábrica, numa iniciativa política. «As senhoras vão estar aqui 30 a 90 dias? Isso não faz sentido», admirou-se. No dia seguinte, o advogado de Monteiro começou a prestar-lhe auxílio. Nesta altura, as relações com o STM começaram a complicar-se.
«Fomos ao sindicato e exigimos que nos dissessem o número do processo. Fiámos ‘passadas’ quando soubemos que não havia acção nenhuma», conta Glória Araújo. «Parecia que estavam a brincar connosco», queixa-se a costureira de 39 anos, lembrando a situação das «colegas que adormeciam os filhos de dois a três anos dentro do carro e depois os maridos levavam-nas para casa».
António Costa, dirigente do sindicato, rebate as críticas. Mas admite que «a advogada contratada pelo sindicato» poderia ter sido mais rápida. Quanto à providência cautelar, diz que «não faz sentido nenhum. Uma acção exclui a outra».
O advogado Franclim Ferreira contesta e diz que «os factos falam por si. Basta ver que o arresto entrou no tribunal no dia 30 e não foi sequer citado o patrão da fábrica que foi dado como ausente».
O advogado diz ainda que «não é coincidência» que o patrão da fábrica, o qual se prepararia para abrir outro negócio noutro local, «tenha querido reunir e apresentado uma proposta para reabrir a fábrica em Setembro».
A Têxtil Meneses & Pacheco fechou devido a uma penhora do fisco. O empresário disse que não tinha condições para laborar e avançou com o despedimento colectivo de 104 trabalhadores. Empregados seus tentaram tirar as máquinas durante a noite. Não o conseguiram, mas as operárias de vigília foram insultadas e ameaçadas. «Tivemos muito medo», recorda Glória Araújo.
O SOL tentou ainda ouvir a direcção da CGTP, sem sucesso.