sexta-feira, agosto 15, 2008

A subsidiodependência

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A atribuição de ajudas ao rendimento é uma medida necessária para reduzir as consequências negativas da pobreza, muito dificilmente será uma boa solução para combater essa mesma pobreza a não ser para os que analisam a realidade através das estatísticas. Os subsídios poderão alterar a realidade estatísticas, mas os pobres que recebem os subsídios continuarão a sê-lo.

É errado pensar que todos os que conhecem a realidade da pobreza estão interessados em viver de subsídios, a não ser que não tenham outra alternativa, são muitos os pobres que preferem procurar trabalho a viver de um subsídio que lhes sabe a esmola estatal, para uma boa parte dos portugueses, mesmo os mais pobres, a forma mais legítima de ganhar dinheiro é trabalhando.

Mas o desenraizamento social leva a que uma parte dos mais pobres tenham perdido os valores culturais associados ao meio rural ou mesmo aos estratos operários. Para estes a opção está em escolher o que permite ganhar mais trabalhando o menos possível, entre ganhar 110 trabalhando e receber 90 não trabalhando não hesitarão em optar pela solução do subsídio. Rapidamente se transformam em subsidiodependentes, nem lhes passa pela cabeça procurar outra forma de vida, se os Estado lhes dá, casa, escola, saúde e ordenado sem terem que trabalhar só se fossem doidos procurariam trabalho.

Isto é uma evidência, mas é pena que a questão só seja colocada desta forma quando estão em causa os pobres, e ainda mais se pertencerem a uma qualquer minoria. Nunca se faz o mesmo para os mais ricos, quando se sabe que muitas das nossas boas famílias enriqueceram graças a subsídios, para não falar de alguns dos nossos ilustres banqueiros que compraram bancos públicos usando o dinheiro dos próprios bancos.

Da mesma forma que muitas famílias ciganas optaram pelo rendimento mínimo em vez de trabalharem, também é evidente que muitos dos nossos produtores agrícolas estão mais interessados em saber o montante dos subsídios concedidos por Bruxelas do que os preços de mercado. Entre uma manifestação de ciganos a exigir casas e de agricultores a pedir o pagamento de subsídios agro-ambientais, a diferença não é muito, até se dá o caso de ambos os grupos terem chegado a exigir negociar com Sócrates. Se os ciganos são pejorativamente pelas suas trapaças, também é verdade que muitos dos subsídios agrícolas são engrossados graças a diatribes. E se o filho do cigano tem um plasma e uma playstation à custa do rendimento mínimo também o é que há por aí muito filho de latifundiário a andar de BMW comprado por subsídios agrícolas.

Se alguns pobres deixam de trabalhar porque preferem viver dos subsídios também o é que alguns dos nossos empresários preferem esperar pela concessão de subsídios ao investimento do quem em procurar oportunidades de investimento, mesmo que estas sejam viáveis sem a concessão de subsídios. Os ciganos de Loures dependem tanto do impostos pagos pelos contribuintes como muitos dos nossos ilustres empresários, e se os ciganos são conhecidos por nada declararem ao fisco essa também é a regra de muitos dos nossos empresários subsidiodependentes.

É pena que quando se fala de subsidiodependência se faça distinção entre duas realidades que, afinal, não passa da mesma. A diferença está apenas na proporção e na gulodice dos mais ricos que gostariam que o Estado gastasse menos dinheiro com os pobres para dispor de recursos para conceder “incentivos” ao investimento dos mais ricos. Andam todos ao mesmo.