A escumalha não é um atributo das ditaduras, não se extingue com o fim destas, há sempre gente disposta a fazer o trabalho sujo, gente que sob a protecção de um chefe autoritário está disponível para ajudar a desfazer-se dos adversários políticos considerados inimigos públicos merecedores de qualquer tratamento.
Pensar que o ser humano muda em meia dúzia de anos ou que se transforma por via constitucional é um erro, basta olhar à nossa volta, para as ditaduras mais antigas ou mais recentes, para o que sucedeu na guerra civil de Espanha ou, mais recentemente, na antiga Jugoslávia, para percebermos que “eles andam aí”.
Os pides, os bufos e os membros da Legião Portuguesa não desapareceram por decreto, eles existirão sempre, haverá sempre quem esteja disposto a desempenhar a função, gente menor que supera as suas frustrações, complexos de inferioridade, gente que se vinga de um mundo onde são menores usando do poder de perseguir o parceiro do lado. À primeira chamada estarão aí dispostos a fazerem o seu papel.
É evidente que em democracia esta escumalha actua como um vírus adormecido, aguardando a primeira oportunidade para desencadearem a infecção, para desempenharem o único papel para que servem. Num primeira fase são quase inofensivos, limitam-se a fazer de tropa de choque, mas se o poder lhe der sinais de que podem actuar com mais agressividade, soltam os cães, ficam agressivos, passam à agressão.
Muitos dos boys dos partidos fazem parte desta escumalha, para eles pouco importa se estão no partido A ou no partido B, se o primeiro-ministro se chama Sócrates ou Marques Mendes, não escolhem o partido em função de ideologias, optam preferencialmente por aqueles que acedem ao poder, seja na autarquia, no governo regional ou no governo da República, a sua existência só faz sentido se estiverem ao serviços de um poder. Um boy do PSD pouco difere de um boy do PS, muitos deles não passam de escumalha pertencente a gangs diferentes.
O PSD e o PS estão cheios desta gente que não vale nada, gente que não presta, que não sabe o que é uma democracia. Quem exerce o poder deve ter o cuidado de não permitir que a escumalha assuma o protagonismo, deve abster-se de promover a imagem do autoritário, não deve cultivar o culto da personalidade, não se deve considerar infalível, sob pena de a escumalha encontrar aí espaço para iniciar a infecção.
O que sucedeu recentemente da DREN é um sinal de que a infecção começou a ganhar forma. Ou Sócrates actua e desinfecta aquele serviço ou iremos a assistir à multiplicação de manifestação da escumalha.