quinta-feira, maio 17, 2007

Os dogmas da esquerda: o horror à concorrência


No no regime de Salazar a concorrência era abafada a todos os níveis, no domínio económico tínhamos o condicionamento industrial enquanto no plano social a ambição não era das qualidades mais apreciadas. Portugal era um país monótono, o Estado cuidava de tudo, desde a escolha dos empresários mais adequados à promoção dos cursos à elaboração dos planos de fomento que asseguravam o progresso e a devida tranquilidade económica.

O 25 de Abril encontrou um Portugal conformado e de conformistas, mas mesmo assim poucos os sinais de concorrência na sociedade e na economia foram eliminados, as empresas estavam ao serviço do país, os bons alunos deveriam ajudar os mais fracos, os trabalhadores eram todos igualmente bons. Todos os sinais de competitividade forma eliminados ou circunscritos ao campo do desporto, o homem novo haveriam de surgir e mesmo o desporto deixou de ser competição para se limitar a contribuir para a saúde do cidadão.

Nas escolas alunos e professores são todos iguais, ser melhor deixou de ser motivo de orgulho de um aluno, querer ser melhor do que o colega passou a pecado. Tudo funcionou às mil maravilhas até à adopção do numerus clausus, a partir daí a igualdade deu lugar à selva.

Na economia a concorrência quase não existe, os mecanismos de protecção subsistiram, no pós 25 de Abril quase era crime falar em concorrência, isso era um pecado do neo-liberalismo e nesse tempo Milton Friedman e os seus “Chicago Boys” apoiavam a ditadura de Pinhochet, de defensor da concorrência a simpatizante do canalha chileno era um pequeno passo. Adam Smith e David Ricard sobreviveram graças a uma edição quase gratuita da Fundação Gulbenkian, na moda estava a tradução do “Capital” de Karl Marx certificada por Vital Moreira (de que só saiu um primeiro volume) que o traduziu da versão alemã para se certificar da pureza das ideias.

Depois veio a CEE mas durante o período de transição ainda subsistiram direitos intracomunitários que se vieram a revelar desnecessários (até ao dia em que Cavaco Silva acabou com eles na esperança de combater a inflação), a burocracia e a corrupção são mecanismos tão ou mais eficazes do que o condicionamento industrial Temos que agradecer aos burocratas e corruptos por nos tem safado de maiores males, os espanhóis podem vender os seus biqueirões no El Corte Ingles mas não se safam nas obras públicas, aí o nacionalismo tem trunfos poderosos.

Agora andamos todos a chorar porque não somos competitivos, desprezamos o mérito e a concorrência, a ambição passou a ser tratada como desvio patológico, no maravilhoso mundo novo feito à semelhança das nossas idiotices seríamos todos iguais e felizes. Os professores, os alunos, os empresários, os políticos devem ser todos iguais. Não foi Sócrates que publicou uma lei para se assegurar que o Estado não pagaria a ninguém mais do que ao primeiro-ministro e ao Presidente da República?

A esquerda, ainda não encontrou uma solução para o grande problema que desde sempre a apoquentou: como estimular o progresso sem competitividade? Como promover a excelência sem ambição? A solução encontrada foi sempre a pior, o decreto e o proteccionismo.

Pelo menos neste capítulo a direita não se pode queixar, se a esquerda acha a concorrência um pecado capitalista a nossa direita encontrou na eliminação da concorrência a fórmula para proteger a incompetência, preguiça e horror ao risco de muitos dos nossos empresários. Se a esquerda tem medo da concorrência porque não quer que o país perca o"sectores vitais da economia" a direita aproveita-se bem dessa unanimidade para que os centros de decisão se mantenham em Portugal o que, por outras palavras, quer dizer que desta forma continuam a ter o exclusivo da exploração dos recursos do país sem terem que fazer grandes esforços, mas quando o país se torna pequeno para os seus interesses começam a falar em mudar-se para a Holanda.

Para sintetizar diria que alguma esquerda defende que todos devemos ser mais pobres para que possamos ser iguais, enquanto alguma direita pretende o mesmo resultado defendendo que todos devemos ser mais pobres para que alguns possam continuar a ser tranquilamente mais ricos. Estão todos de acordo.