terça-feira, maio 29, 2007

Tenham a gentileza de me contruir, porra!


De um ponto de vista pessoal é-me indiferente a localização do novo aeroporto, apesar de morar perto do actual prefiro desembarcar em Bruxelas e apanhar o comboio até à Gare Central de onde posso seguir para onde quero de metro ou aterrar no moderno aeroporto de Schiphol e seguir confortavelmente de carro até ao centro da cidade ou até à porta da maioria dos hotéis. O que detesto mesmo é aterra em Lisboa e ter que fazer umas centenas de metros a pé para apanhar um táxi que não seja um daqueles que estão nas chegadas à espera de um turista incauto e quando têm o azar de apanhar um portugês que mora perto não conseguem esconder a falta de educação. Quantos turistas não terão andando muito mais do que terão de viajar desde a Ota para chegarem ao hotel depois de terem sido levados a passear até Sintra ou Cascais.

Calculo que se o aeroporto ficasse em Rio Frio a propaganda dos projectos turísticos de Belmiro de Azevedo ou do Grupo Espírito Santo passariam a informar que quase contavam com um aeroporto internacional privativo. Os ganhos obtidos dariam para comprar metade dos políticos, uma boa parte doa ambientalistas e uma resma dos nossos melhores engenheiros.

Sou sensível ao argumento da proximidade com Espanha mas se for ao mapa fico a saber que a Extremadura espanhol é quase o deserto que Mário Lino descobriu na margem sul. Se o país gasta uma fortuna a pensar na meia dúzia de espanhóis que prefeririam Lisboa então que se faça o aeroporto em Tróia e se construa uma manga directamente para o empreendimento do Belmiro e outra para a Comporta do amigo Ricardo Salgado, do mal o menos, sempre são portugueses.

O ideal será mesmo fazer um referendo para que o aeroporto não seja na Ota e depois de gastos mais uns milhões pode ser que o Berado decida investir em Abrantes e comprar uns quantos jornalistas e engenheiros para exigir outra localização porque Rio Frio perturba o sono das rolas e dos pintassilgos. E quando os portugueses votarem em referendo que o aeroporto não pode ficar no Rio Frio para descanso dos passarinhos pode ser que o Grupo Amorim se decida a investir num empreendimento turístico em Évora e a gastar mais uns trocos a comprar os nossos opinion makers que vão descobrir que se pode construir o aeroporto ali para os lados de Vendas Novas, onde não há nem charcos, nem rolas, nem pintassilgos.

No fim de tudo isto os portugueses, inscritos ou não na Ordem dos Engenheiros, serão todos especialistas em estudar a localização de aeroportos, o que poderá resolver o problema para o desemprego, poderão emigrar para ajudar outros países a escolher a localização dos seus aeroportos. Mas terão um pequeno problema, terão de viajar de carro, de comboio ou de barco porque para viajar de avião terão de marcar a viagem com seis meses de antecedência, para conseguirem uma vaga num voo a partir da Portela de Sacavém.

Onde quer que se construa o aeroporto subsistirão inconvenientes e haverão interesses prejudicados e outros beneficiados. O PSD escolheu a Ota num tempo em que era muito ambientalista, o Belmiro de Azevedo ainda não tinha feito o negócio de Tróia e o Grupo Espírito Santo ainda não tinha apostado no turismo, agora arrependeu-se e Marques Mendes descobriu as vantagens da margem sul.

É evidente que também podem ser lançadas dúvidas sobre a escolha do Governo, ou melhor, dos vários Governos que se pronunciaram sobre a questão. Apesar de tudo eu posso penalizar as escolhas do Governo, na gestão do país eu tenho uma acção que é o meu voto, do Grupo Espírito Santo ou da Sonae é que não tenho nenhuma acção, por isso estou mais preocupado com os interesses do país ainda que só tenha uma acção do que o enriquecimento do BES ou da Sonae de que não sou sócio.Talvez comece a fazer sentido dizer: construam-me porra!