segunda-feira, setembro 03, 2007

Caso Somague: a omertà à portuguesa


Se as nossas “elites” tivessem feito um pacto de silêncio em torno do Caso Somague os resultados seriam exactamente aqueles a que estamos a assistir, parece que meio país está apostado em que o caso seja esquecido. A “onorata società” portuguesa foge do tema como o diabo da cruz, quase todos evitam falar no assunto como se de sarna se tratasse.

Por cá ninguém fala, no PS, principal adversário político devem ter deixado de ler jornais, os outros partidos ficaram mudos, até o Miguel Portas diz no Parlamento Europeu que não há nada de suspeito, os chamados “senadores”, como Jorge Coelho e Dias Loureiro, ainda devem estar nalguma cave de Cancun à espera que o “furacão” passe, Saldanha Sanches, o campeão televisivo do combate à corrupção e da fuga ao fisco, não se pronuncia, os analistas políticos devem estar de barriga ao sol e o Marcelo optou por reflectir sobre a sua campanha presidencial para daqui a nove anos.

É evidente que ninguém se mete nem com a Somague nem com os amigos do Compromisso Portugal, o preço a pagar por tal pode ser muito alto. Todos juntos representam uma boa quota do mercado de que vivem os que manipulam a opinião pública portuguesa, o mercado da publicidade e o mercado dos pareceres inúteis. Uma intervenção inconveniente pode custar uma campanha publicitária ou um parecer que daria para pagar o Smart para a filha mais velha.

Se estivesse em causa umas notas entregues num saco de plástico por um pato bravo da construção civil não faltariam filas de comentadores às portas dos estúdios das televisões, primeiras páginas com entrevistas às amantes do pato bravo e intervenções dos nossos distintos comentadores. Mas o presidente da Somague não é nenhum pato bravo, a teia de relações em que se movimenta representa uma elevada percentagem do PIB, como diria um qualquer assessor de Sócrates.

Atingir a Somague seria atingir um deles, seria atingir uma rede de interesses que controlam uma boa parte do nosso país, da comunicação social ao sistema político. As “somagues” não pagam apenas a políticos, delas vivem muitos dos nossos académicos, jornalistas, jurisconsultos, consultores, “senadores” e comentadores. Com o seu dinheiro já foram eleitos autarcas, presidentes e primeiro-ministros.

A verdade é que este silêncio não é casual, as nossas elites vivem das mesmas gorjetas que alimentam os partidos, ninguém está interessado em que se fale do assunto, estamos perante uma omertà à portuguesa.