Num país onde os políticos se põem de cócoras perante qualquer jornalista estagiário a atitude de Santana Lopes merece o meu elogio. Os jornalistas acham que podem fazer e desfazer as carreiras de políticos, de gestores públicos e privados e até de meros cidadãos ou de funcionários públicos. Criou-se na sociedade portuguesa a ideia de que temos que andar com os jornalistas na palma da mão, até bajulá-los, porque há sempre um rabo-de-palha que poderão usar para se vingarem.
Nos últimos anos houve uma profunda mutação no jornalismo, começa a ser difícil perceber quem é o bom jornalista, de intérprete da realidade o jornalista passou a ser o protagonista principal na medida em que tenta ser ele a decidir qual sobre a própria realidade. Ainda há poucos meses o ministro Correia de Campo foi desagradável para um jornalista da TVI que lhe fez uma pergunta idiota e durante semanas a fio aquela estação de televisão abriu telejornais com notícias negativas sobre a saúde, numa Lara vingança, como se pretendesse meter o ministro na ordem. É raro o dia que não vejo jornalistas da TV colocarem perguntas para as quais a única resposta possível é a expressão que o falecido Almirante Pinheiro de Azevedo tornou famosa: “vão à bardamerda”.
Santana Lopes tem as qualidades e defeitos que tem, pode oscilar entre o político idiota e o orador brilhante, mas foi primeiro-ministro deste país e alguém que teve esse estatuto só pode ter a atitude que ele teve. É inaceitável que a entrevista a um ex-primeiro-ministro seja interrompida só para sabermos que Mourinho chegou a Lisboa, que vai passar os fins-de-semana com a família, que pede que o deixem tranquilo e que durante o tempo em que estiver parado vai observar os campeonatos de onde espera que venha um contrato.
Santana Lopes fez o que muitos políticos não fazem porque lhes falta a coragem para o fazer, porque estão dispostos a lamber o dito cujo de qualquer jornalista esperando a sua simpatia. O abandono dos estúdios da SIC [Portugal Diário] é um gesto que merece ser elogiado.