Ouço os responsáveis governamentais, ouço os professores, ouço os políticos da oposição e cegou à conclusão de que os alunos são o que menos importa. Os políticos da oposição, a este ou a qualquer outro governo, têm sempre a mesma opinião, tudo foi mal feito. Os sindicatos fazem o que lhes cabe, o ensino está bem se conseguiram ver satisfeitas as suas reivindicações. Os governantes desdobram-se em busca de indicadores de sucesso, como se viu a ministra afirmar no programa Prós e Contras o que importa são os resultados, a diminuição do abandono precoce e do insucesso escolar.
Os alunos pouco importa, para uns são argumento político, para outros são a matéria-prima necessária para empregar professores e para os últimos são facilmente convertíveis em resultados estatísticos. É o resultado de um modelo de ensino que tem por objectivo massificar o ensino e cujo resultado pretendido é a mediania. O objectivo não é a excelência, a crer na felicidade da ministra o sucesso do sistema de ensino está na redução do abandono e em menos reprovações, os bons alunos são úteis apenas porque dão menos trabalho aos professores e ainda os podem ajudar sentando-se ao lado dos alunos com dificuldades. Quando se pergunta a um aluno como correu o ano ele não nos responde dizendo que teve boas notas, limita-se a dizer que passou, passar é o único objectivo fixado para os nossos estudantes.
Só que os que mais se queixam de o país ser pouco desenvolvido são precisamente os que condenam a excelência, os que mais se queixam de estarmos na cauda da Europa são os mesmos que odeiam os quadros de honra, os que mais defendem a competência são precisamente os que se batem por objectivos medianos para o sistema de ensino.
O nosso sistema de ensino não é mau só porque há abandono escolar e insucesso, é mau porque não promove a excelência, porque se não fossem os pais muitos bons alunos seriam reduzidos a alunos medianos, porque aposta tudo nos mais fracos e despreza os melhores.
Se queremos investigação científica, empresas bem geridas, uma Administração Pública mais moderna, políticos mais competentes, empresários mais ambiciosos, uma economia mais competitiva e trabalhadores qualificados não chega termos um sistema de ensino que produz alunos que passaram, é necessário promover e apoiar a excelência, sob pena de um dia destes ser bom aluno se transformar em motivo de vergonha. Aliás, na nossa tradição o aluno que é bom porque estuda é marrão, é a vítima das “cacholetas” da turma.
O ensino não pode ser visto apenas na perspectiva do interesse dos professores ou das estatísticas governamentais, os objectivos do sistema de ensino devem centrar-se no aluno, promovendo a ambição e a excelência. Não basta que os alunos “passem”, Portugal precisa de muitos bons alunos sem os quais não sairá do círculo vicioso do subdesenvolvimento.
Não faz sentido esperar grandes resultados do país quando o sistema de ensino promove a mediania e onde qualidades como a ambição, a dedicação, o esforço, a excelência e a competitividade são considerados defeitos dignos de um processo de reeducação numa aldeia da Coreia do Norte.