Para justificar a sua posição contra a presença de lojas chinesas na Baixa de Lisboa Maria José Nogueira Pinto relacionou a presença dessas lojas com a decadência do comércio tradicional. A Zezinha encontrou a causa de um problema que já tem décadas e que nenhuma medida conseguiu evitar.
Esta posição revela uma faceta da conhecida política da direita mais conservadora, a sua ignorância em coisas da economia, o que permite questionar a sua competência para gerir o projecto de revitalização da Baixa. Há muito que a Baixa está em decadência e nos últimos anos o processo acentuou-se, as alterações na rede do Metro desviaram transeuntes, o abandono os habitantes transformaram-no num deserto nocturno perigoso, o comércio não se modernizou, as empresas ali instaladas não acompanharam os tempos e surgiram novas cadeias comerciais como a Zara.
Associar a decadência às lojas aos chineses ou é ignorância ou má-fé, muito antes de os chineses ali instalarem uma dúzia de lojas já o comércio local agonizava.
Os chineses talvez tenham alguma culpa, mas não os chineses com que a Zezinha está preocupada. As calças que os portugueses compram na Zara em vez de irem à loja portuguesa a lado são produzidas (provavelmente) por chineses, o mesmo sucedendo com uma elevada percentagem dos produtos vendidos nas grandes superfícies. Até muitos dos produtos vendidos pelo comércio tradicional é produzido na China. Seria interessante se a Zezinha fizesse um estudo para apurar quanto do que compra e consome tem origem chinesa, mesmo sem ir às lojas dos pobres.
Mas é evidente que a Zezinha nunca ousaria selar a sua carreira política embirrando com o Continente do Belmiro de Azevedo, esse sim um dos grandes responsáveis pelas mutações da distribuição comercial a que o comércio tradicional não resistiu. Mas para a Zezinha os culpados são os chineses, com eles não há grandes amizades, insistem em ser enigmáticos (como ela escreve) e ainda por cima vendem barato e são prestáveis.
Lisboa sempre foi uma cidade universal, como o são as grandes cidades europeias, sempre o foi desde a sua fundação e não vai ser a Zezinha a impor os seus valores conservadores à Baixa de Lisboa. Quem é incapaz de compreender os fenómenos económicos, aborda-os com preconceitos contra determinadas comunidade e tem uma visão ruralista da Baixa de Lisboa, não está à altura de um projecto que visa a sua revitalização. Já foi fenícia, já foi romana, já foi árabe, tem sido portuguesa e cristã, ainda há-de ser muita coisa se não a congelarem no tempo das varinas e das fragatas do Tejo.
Desta vez concordo com Sá Fernandes, a Zezinha é uma má escolha (e um mau negócio) de António Costa. A mentalidade da Zezinha é dos tempos em que as notas de um escudo circulavam e o comércio tradicional da Baixa acabou com outro comércio tradicional. A Zezinha parece não perceber que o tempo não volta para trás, por mais que ela impeça os chineses de se instalar onde quer que seja.